Diretor Sergei Loznitsa concilia rigor e desesperança
A desesperança permeia a obra do bielorrusso Sergei Loznitsa, 48, um dos homenageados da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que exibe retrospectiva quase completa de seus filmes.
Crítica: Em 'Na Neblina', redução do drama ao essencial soa falsa
Em documentários ou ficções, longas ou curtas, o diretor não deixa margem para ilusões sobre a vida na ex-União Soviética, onde sua obra se concentra.
"Passei 15 anos viajando pelo campo, na Rússia. Faço filmes sobre territórios e pessoas que conheço e com os quais me importo", diz Loznitsa, em entrevista, por email, à Folha.
É possível que o seu pessimismo não seja tão especificamente voltado à realidade rural pós-soviética.
Divulgação | ||
Cena do filme "Na Neblina", de Sergei Loznitsa |
"Sempre há um elemento antropológico em um filme, já que abre uma janela para uma cultura em particular. Mas gosto de pensar que há uma essência universal nos personagens e situações que crio, que não se restringem só a um país ou a uma cultura em específico."
O diretor estará em São Paulo neste fim de semana para apresentar seus filmes. A visão dura sobre a humanidade aliada a uma admirável competência técnica (com belos planos-sequências) o tornaram um dos diretores mais prestigiados da atualidade.
Seus filmes mais conhecidos são "Minha Felicidade" (2010) e "Na Neblina" (2012), mas o bielorrusso constrói uma interessante trajetória de documentarista desde os anos 1990, quando largou a carreira de matemático.
Sua estreia, "Hoje Vamos Construir uma Casa" (1996), já trazia as bases de seu cinema: a observação da rotina camponesa, o rigor no uso do som e a preferência por tomadas longas.
"Planejo todos os planos dos meus filmes com muita antecedência. Faço 'storyboards' e ensaios. Sou até aberto a improvisos, mas só onde cabem", diz ele.
Loznitsa também é conhecido pelo ritmo arrastado de seus filmes --em "A Estação de Trem" (2000) consegue o milagre de prender a atenção mesmo só mostrando pessoas dormindo em um terminal, por 25 minutos.
"Cada um tem seu ritmo. Uso a lentidão como ferramenta para que o espectador sinta a narrativa. Deixo que ele as viva, as experimente."
Com presença expressiva em suas ficções e no documentário "Bloqueio" (2005) --todo com imagens reais da ocupação alemã em Leningrado--, a Segunda Guerra é uma das obsessões do cineasta. Ele voltará ao tema, aliás, em seu novo longa.
"As cicatrizes persistem. A propaganda soviética criou o mito de uma 'Grande Guerra Patriótica' que pouco tem a ver com a realidade. Poucos sabem que civis da Belarus deram boas-vindas aos 'libertadores' alemães. Para seguir adiante, é preciso conhecer o passado, ou a história se repetirá."
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