Revolucionário do fusion jazz, Stanley Clarke se apresenta em Paraty
Neste sábado (25), um representante da verdadeira realeza do jazz pisará no palco Bourbon Festival Paraty. Trata-se do revolucionário baixista americano Stanley Clarke, que também se apresenta no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, na terça-feira (28), e no Rio das Ostras Jazz and Blues Festival, também no litoral fluminense, na quarta (29). Em outubro, ele parte para uma turnê pelo Japão com o não menos nobre Chick Corea.
Em 1972, depois de ter tocado no álbum divisor de águas "Bitches Brew", de Miles Davis, o pianista recrutou Clarke para fundar a banda Return to Forever, um dos pilares fundamentais do jazz fusion, estilo que misturou o gênero tradicional de Nova Orleans a técnicas de funk, injetando efeitos sonoros, como distorção e reverb, e o espírito de experimentação do rock.
"Naquela época, o jazz se reinventava a cada dia e era preciso dialogar com o que estava acontecendo. Éramos jovens e livres, não havia barreiras", diz Stanley Clarke, 61 anos, em entrevista à Folha.
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O baixista norte-americano Stanley Clarke |
Além de ser coautor de um estilo, o músico também desenvolveu uma técnica que se tornou referência para todas as gerações de instrumentistas desde então. Ele foi o primeiro a aplicar o "slap", até então restrito ao funk, ao jazz. "Na verdade, eu tirei isso do Larry Graham [ex-baixista do Sly and the Family Stone]. Na época, eu estava vidrado naquele som e naquele groove", diz ele, que foi muito além do criador em termos de complexidade melódica, aliada à uma pegada percussiva, tanto no baixo elétrico quanto no transversal.
A trajetória de Clarke também cruzou a história da música brasileira. Tanto que ele se refere ao país como "a capital da melodia no mundo". O que rendeu episódios engraçados. "Morei com Tom Jobim em Nova York no início dos anos 70. Lembro que em uma manhã eu estava dormindo com a minha mulher e, quando abri os olhos, o Airto Moreira e o Hermeto Pascoal estavam na minha cama [risos]. Foi a coisa mais cômica e esquisita acordar com um albino excêntrico como o Hermeto", recorda-se o baixista.
Junto ao saxofonista Stan Getz, embaixador americano da bossa nova, o baixisra acompanhou João Gilberto em uma temporada no Rainbow Room, tradicional clube e restaurante que ficava no Rockefeller Center, em Nova York. "Ele me demitiu em uma semana!", conta Clarke. "Aquele cara era maluco. Ele falava: 'Toque apenas doo, e não doo-dah'", conta o americano, às gargalhadas.
Nas apresentações no Brasil, Clarke promete repassar seu repertório desde os anos 70 até o mais recente álbum, "The Stanley Clark Band" (2010).
O grupo que o acompanha é formado por músicos da nova geração, o que, segundo o veterano, é uma forma de valorizar a cena nova-iorquina atual e adicionar gás aos seus sets. "Estamos vivendo um momento muito vibrante do jazz. O público ainda precisa despertar para isso", queixa-se. Mas, claro, excursionar com músicos novos tem lá os seus inconvenientes. "Meu baterista não tem nem idade para beber."
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