Crítica: Miley Cyrus mostra em SP que canta com a boca e não com a bunda
Miley Cyrus canta com a boca, não com a bunda. Foi o choque que muitas das 20 mil pessoas tiveram ao ver a estrela de 21 anos no palco em São Paulo, na sexta (26).
É que muito se fala da hiperssexualização da americana que ficou famosa com a marca Disney e depois teria se desgarrado para cantar a libertinagem. Acontece que Miley ao vivo é menos erótica que uma paniquete genérica.
Tudo bem que o circo pornô soft não estava todo armado. A cenografia perdeu um milho fálico gigante, em que ela montaria. Mas o palco quase pelado tinha um telão que mostrava animações psicodélicas: um frango assado com a cabeça de Cyrus, a cantora andando de jet ski quase nua enquanto luta contra jatos de vômito de um bebê gigante.
Mesmo as apalpadas constantes parecem coreografias. Miley é caos arquitetado. Até quando faz pantomima de orgia com uma travesti de dois metros, um urso de pelúcia e uma anã, parece demasiado profissional.
O corpo mirrado da adolescente dá asilo e uma voz superior a todos os outros pares do pop infantil e uma ética de trabalho americana. Entrou sem atraso e desfilou todos os hits: "Wrecking Ball" e "We Can't Stop". Idênticos às versões do iTunes.
A menina tem alcance vocal e afinação. E ainda trabalha para a educação musical das jovens histéricas ao cantar "Lucy in the Sky With Diamonds" (é melhor conhecer Beatles por meio de uma pop star do que não conhecer).
Acreditar que Cyrus é mau exemplo é cair na premissa do seriado "Hannah Montana": nele, Miley era uma estrela que passava despercebida na sua escola porque, no palco, usava uma peruca.
Na vida real, não é por ter cortado o cabelo e mostrar a língua que essa garota vai passar de um produto embalado a vácuo à maior ameaça à juventude desde o ecstasy.
MILEY CYRUS
AVALIAÇÃO bom
Livraria da Folha
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