Livro reúne pérolas emocionantes do universo das cartas
Um jovem chamado Leonardo oferece seus préstimos para o governador de Milão. Para isso, cita suas aptidões numa lista, sendo que só o décimo item comenta suas inclinações artísticas.
O líder de um movimento pela independência de um país asiático escreve para o líder de um país europeu, pedindo para que não vá além com suas intenções imperialistas.
O mundo digital ilude com a ideia da hiperconexão. Não é que não estejamos cada vez mais interligados graças à troca compulsiva de mensagens eletrônicas de toda espécie.
Mas nos esquecemos que, antes da internet, as pessoas também viviam conectadas.
E não deixa de ser irônico que um site tenha que virar livro para reforçar a importância das cartas. "Cartas Extraordinárias - A Correspondência Inesquecível de Pessoas Notáveis" é a versão impressa do blog "Letters of Note", criado pelo inglês Shaun Usher.
Desde 2009, ele reúne pérolas emocionantes do universo da correspondência. A maioria delas é escrita por personalidades históricas de toda a sorte –políticos, artistas, cientistas, escritores, atores– em diferentes períodos de suas vidas, além de relatos anônimos de cortar o coração.
DEZ DÓLARES
Não faltam momentos históricos. Lemos um jovem Fidel Castro, aos 12 anos, em 1940, pedindo, em inglês, uma nota de dez dólares ao recém-reeleito presidente norte-americano Franklin Roosevelt.
Duas cartas são endereçadas a Marlon Brando: numa delas, de 1957, o escritor Jack Kerouac suplica para que o ator faça parte da adaptação de seu recém-lançado livro "Pé na Estrada". Noutra, de 1970, Mario Puzo faz pedido semelhante para a versão cinematográfica de "O Poderoso Chefão".
Editoria de arte/Folhapress | ||
O autor Mario Puzo escreve ao ator Marlon Brando, 1970 |
Caro sr. Brando, Escrevi um livro chamado "O Poderoso Chefão" que teve algum sucesso e acho que o senhor é o único que pode fazer o papel Chefão com a força e a ironia (o livro é um comentário irônico sobre a sociedade americana) que o papel exige. Espero que o senhor leia o livro e goste dele o suficiente para usar todo o seu prestígio para conseguir o papel. Com essa finalidade estou escrevendo para a Paramount; pode ser que ajude. Sei que é muita presunção de minha parte, mas o mínimo que eu posso fazer pelo livro é tentar. Acho que o senhor seria fantástico. Não preciso dizer que admiro sua arte. Mario Puzo Um amigo comum, Jeff Brown, me deu seu endereço.
Há relatos tocantes, como uma carta de um ex-escravo para seu antigo dono. Outros hilários, como o do gerente de produto da Sopa Campbell a Andy Warhol, comentando o uso das latas da empresa em suas obras. Ele lhe oferece caixas com o enlatado.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Carta enviada pelo gerente de produto das sopa me deu seu endereço. Campbell ao artista Andy Warhol, em 1964. |
Prezado sr. Warhol: // Venho acompanhando sua carreira há algum tempo. Sua obra tem despertado grande interesse aqui na Campbell Soup Company por motivos óbvios. Já tive a esperança de adquirir um de seus trabalhos com o rótulo de Campbell Soup, porém receio que seja caro demais para mim. Quero dizer-lhe, no entanto, que admiramos sua obra e que eu soube que o senhor gosta de sopa de tomate. Tomo a liberdade de enviar-lhe algumas caixas de nossa sopa de tomate, que serão entregues nesse endereço. Desejamos-lhe constante sucesso e boa sorte. Cordialmente, William P. MacFarland // Gerente de produto
Alguns outros são repugnantes, como a carta em que Jack, o Estripador, se apresenta à polícia londrina enviando um pedaço de uma de suas vítimas. Outros curiosos, como o de uma criança que sugere ao presidente norte-americano Abraham Lincoln que deixe a barba crescer.
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Algumas cartas não são manuscritas. Um telegrama avisa aos militares na base de Pearl Harbor que as sirenes que estavam ouvindo não eram um teste –e sim o ataque que motivou a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial.
"Cartas Extraordinárias", que traz fac-símile da maioria das 125 epístolas reunidas, é prazer tanto para ser folheado e lido casualmente quanto para ser devorado.
E entre as inúmeras surpresas pelo caminho, descobrimos que foi graças à uma carta que o governador de Milão contratou Leonardo da Vinci em 1483 e, dez anos depois, lhe encomendou a "Última Ceia".
E que Gandhi tentou, por meio de uma carta, fazer com que Hitler desistisse de dominar a Europa e não provocasse a Segunda Guerra Mundial. "Pelo bem da humanidade."
CARTAS EXTRAORDINÁRIAS
Organização Shaun Usher
Tradução Hildegard Feist
Editora Companhia das Letras
Quanto R$ 99,90
Livraria da Folha
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