Crítica: Qualidade da equipe compensa excessos de 'Mudança de Hábito'
"Mudança de Hábito" é um exagero em quase todas as frentes, um musical trabalhado demais. Celebremente, já para o filme de 1992 com Whoopi Goldberg, mobilizou quase uma dezena de roteiristas. Para o musical, acrescentaram-se dramaturgos, criaram-se outras canções, amontoaram-se diretores, nasceu até mesmo uma linha de coro de freiras.
Estreou na Califórnia, surgiu diferente em Londres três anos depois e só chegou a Nova York após mais dois anos, em 2011. É esta última versão, com encenação do inventivo Jerry Zaks, de montagens marcantes na Broadway e off há três décadas, que ganha temporada agora em São Paulo, com elenco brasileiro.
Percebe-se o acúmulo criativo, o detalhamento a cada personagem, até os menores. O que garante ótimas cenas, por exemplo, para Tiago Barbosa, Max Grácio e Beto Sargentelli, que interpretam três malfeitores paralelos na trama, mas muito engraçados, caricaturas de uma Nova York dos anos 1960 e 1970.
Felipe Gabriel/Folhapress | ||
Cena do musical 'Mudança de Hábito', em cartaz no Teatro Renault |
Muitas das freiras também são bem desenvolvidas, uma festa para atrizes como Daniela Cury. São como peças à parte. Este ou aquele personagem, como o Curtis de Cesar Mello, parece pedir até uma trama própria.
Feérico, excessivo, o espetáculo acaba porém por sufocar um dos bons achados do enredo original: a reviravolta dramática de questionar a irresponsabilidade com que a protagonista, a cantora Deloris, trata as freiras que a protegem e cujas vidas ela põe em risco. Aprendem todas, umas com as outras.
No palco, pelo contrário, Deloris submete e muda as freiras por completo. Vale porém pela atuação exuberante e com domínio da comédia pela brasileira Karin Hils, que já vinha de "Hair" e se confirma agora, de uma vez, como estrela de teatro musical.
De maneira geral, o espetáculo é um tributo à qualidade dos profissionais que se desenvolveram na última década e meia em torno da produtora T4F. Vale não só para o grande elenco, mas, entre outros da equipe criativa brasileira, para a versionista Bianca Tadini e para a primeira regente Vânia Pajares.
MUDANÇA DE HÁBITO
QUANDO qui. e sex., às 21h; sáb., às 17h e às 21h; dom., às 16h e às 20h
ONDE Teatro Renault - av. Brig. Luís Antônio, 411, tel. (11) 4003-5588
QUANTO de R$ 50 a R$ 260
AVALIAÇÃO bom
Livraria da Folha
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