OPINIÃO
Em 'Jurassic World', homem continua na época da caverna
Os dinossauros voltaram às telas com enorme estardalhaço, graças à reedição da série "Jurassic Park", agora como "Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros", produzido por Steven Spielberg.
Obviamente, o fascínio com dinossauros assassinos continua: no primeiro fim de semana de exibição, o filme se tornou a maior bilheteria de abertura do mercado americano, faturando US$ 207,4 milhões.
A ideia é a mesma: um parque isolado –misto de Disney World e Sea World– onde pessoas têm contato direto com animais extintos há mais de 65 milhões de anos. Cientistas recriam o passado da vida na Terra usando mosquitos preservados por todo esse tempo em pedaços de âmbar.
São mosquitos especiais, que sugaram o sangue dos monstros –como perfuraram as carapaças não é explicado. Os genes das criaturas, ainda usáveis em parte, são extraídos do sangue e complementados para recriar os sauros.
Passados 22 anos desde o primeiro filme, a grande novidade é que o parque não se restringe a recriar seres extintos: para o lucro crescer, o fator medo tem que crescer. Para tal, o dono do lugar, um bilionário indiano, contrata um geneticista genial chinês; já aqui vemos o sinal dos nossos tempos. Sem questionar consequências morais de seus atos, o cientista cria um mutante, um monstro assassino que combina o poder do T. rex com a inteligência do Velociraptor.
A lição mais direta do filme é que não aprendemos com o passado. O homem continua agindo moralmente como quando nas cavernas, com o agravante de termos uma crescente capacidade tecnológica.
Existe um paralelo entre os abusos da genética no filme e a invenção da bomba atômica em 1945 e sua extensão à bomba de hidrogênio em 1952.
Alguns cientistas envolvidos no Projeto Manhattan, que inventou a ogiva atômica, questionaram a moralidade de se criar uma arma com tal poder destruidor –e, mais ainda, seu uso sobre uma população civil.
As bombas que destruíram Hiroshima e Nagasaki provaram a viabilidade da tecnologia e encerraram a guerra no Pacífico. Mas, com a Guerra Fria, seu poder não era suficiente. Daí a invenção da bomba de hidrogênio.
E daí a criação do dinossauro mutante, um Godzilla que não nasceu por acidente, mas que foi desenhado, como já estão sendo outras criaturas.
Onde, nos pergunta o filme, encontrar o equilíbrio entre os apetites do consumidor, o lucro do investimento e o perigo de criarmos algo que não podemos controlar?
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