crítica
'Homem-Formiga' diverte, mas exagera na adaptação da HQ
Quem lê gibi sabe que o Homem-Formiga é um herói de segundo time na editora Marvel. Não se compara a Thor, Hulk, Homem-Aranha e outras estrelas. Quem assistir a "Homem-Formiga" no cinema pode discordar.
O filme é um bom passatempo, puro lazer em duas horas sem precisar pensar em mais nada. Tem boas cenas de ação e efeitos visuais legais (bem, isso é o mínimo que uma produção dessas deve oferecer).
A boa surpresa é Paul Rudd. Ator sempre ligado a filmes românticos, tanto faz se drama ou comédia, ele se sai bem no papel do Formigão. Passa certa fragilidade que caracteriza muitos heróis da Marvel.
O filme, porém, tem problemas para aqueles que justamente compõem seu público-alvo: os fãs radicais de HQ. Essas pessoas costumam surtar a cada alteração que uma adaptação cinematográfica imprime ao gibi original. E "Homem-Formiga" exagera nas mudanças.
A principal é que o cientista Hank Pym não veste a roupa do herói, como acontece nos quadrinhos. Ele cria o traje que dá a um humano o poder de reduzir seu tamanho ao de um inseto, mas o entrega para Scott Lang, um ex-presidiário que ganha a chance de bancar o bonzinho.
CHARMOSO
Nem adianta argumentar que o veterano Michael Douglas faz um charmoso dr. Pym ou que Rudd cai bem no papel. Para os fanáticos, o estrago já está feito. Outro problema que pode incomodar, neste caso aos fãs de cultura pop e cinéfilos em geral, é que a brincadeira de inserir um humano minúsculo entre objetos normais que agora passam a ser gigantescos não é algo novo.
Nos anos 1960, a série de TV "Terra de Gigantes" e o longa "Viagem Fantástica" (1966) exploraram o tema e encantaram a todos.
A lista tem muitos outros, mas a origem desse filão na ficção científica segue até hoje como seu filme mais impactante: "O Incrível Homem que Encolheu".
Lançado em 1957, mostra um homem exposto a produtos químicos que o fazem diminuir cada vez mais de tamanho. Tem direção de Jack Arnold, responsável por outro clássico da ficção científica, "O Monstro da Lagoa Negra" (1954). O cineasta carrega o filme com um desespero angustiante.
IMAGENS ALUCINÓGENAS
Peyton Reed, diretor mediano sem nenhum grande filme no currículo, tem muito a aprender com Arnold, porque seu "Homem-Formiga" carece de força narrativa.
Fica evidente a ideia de ancorar a trama na figura de um pai buscando o amor da filha. O protagonista Scott Lang luta pela guarda da criança, e os roteiristas acreditam que ser um herói do tamanho de um inseto vai ajudá-lo nisso.
Difícil crer que as cenas do pai com a filha fiquem na memória de espectadores que vão delirar com Lang cavalgando uma formiga ao liderar um exército delas.
Assim, equilibrado entre drama familiar e imagens alucinógenas, "Homem- Formiga" vinga como diversão, mas não evita a impressão de que é um filme menor da Marvel, como um primo pobre dos Vingadores.
Hank Pym é um dos Vingadores originais nos gibis. Excluído da franquia dos personagens no cinema, parece agora querer entrar de penetra na festa.
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