CRÍTICA
Capricho autoral e ferramentas batidas tornam 'Chronic' algo bobo
Pode um filme inteiro ser arruinado por uma única imagem? Em "Chronic", Michel Franco nos mostra que sim –e comprova, por tabela, como o cinema é arte frágil.
Franco não está sozinho, é claro. Outros filmes já foram destruídos pela insistência de seus diretores em acrescentar algum detalhe que, em geral, tem o objetivo de impor sua "visão de mundo" –uma espécie de capricho autoral que tem a força de anular tudo o que havia sido dito até aquele momento (como Lars Von Trier e o desfecho niilista de "Ninfomaníaca", por exemplo; ou Maiwenn e o apelativo fim de "Polisse").
Divulgação | ||
Cena do mexicano "Chronic", de Michel Franco |
O caso de "Chronic", primeiro longa em língua inglesa do mexicano Michel Franco ("Depois de Lucia"), é bastante parecido e igualmente doloroso. Assim como em "Ninfomaníaca" e "Polisse" –ainda que em níveis bem diferentes, é claro–, qualidades genuinamente sólidas, ligadas principalmente ao evidente trabalho e à notória dedicação dos atores, acabam destruídas por uma única decisão infeliz do diretor.
"Chronic" narra a vida de um enfermeiro (interpretado por Tim Roth) que trabalha como acompanhante de doentes terminais. Franco preenche seu filme com um olhar cuidadoso sobre a rotina desse personagem e sua relação com os pacientes, optando por ser bem menos detalhado ao abordar a vida pessoal do protagonista.
Inicialmente, a decisão por uma narrativa elíptica parece uma forma interessante de economia dramática, mas aos poucos se mostra apenas um recurso fácil no sentido de prender a atenção do espectador e tentar criar mistério. O roteiro solta algumas informações, mas omite sempre as que seriam as mais importantes –uma estratégia tão batida quanto eficiente ("Chronic" recebeu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes).
editoria de arte/Folhapress |
Os imperdíveis da Mostra de Cinema |
Menos que uma estratégia: um truque que se mostra com clareza na imagem derradeira, que não poderia ser mais "impactante" e "boba".
E mais: não é possível dizer que esse desfecho, de tão infeliz, possa ser classificado como "spoiler".
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