Guilherme Fontes exibe 'Chatô' à imprensa e quer lançá-lo em 19/11
A maior epopeia cinematográfica do Brasil pode chegar a seu capítulo final na próxima quinta (19), data em que o diretor Guilherme Fontes planeja lançar "Chatô", 20 anos após ter iniciado o projeto.
Nessas duas décadas, o longa parecia ter naufragado: uma parceria furada e onerosa com Francis Ford Coppola entre 1997 e 1998, gastos exorbitantes a partir de 1999 (mesmo ano em que o Ministério da Cultural começou a averiguar as contas), falta de pagamentos –a equipe de Fontes foi despejada do estúdio em 2001–, acusações de irregularidades no uso do dinheiro público e o vaivém do projeto em órgãos como o Tribunal de Contas da União e o Supremo Tribunal Federal.
Depois de tantos reveses e dúvidas, o problema mais recente diz respeito à distribuição: a entrada do filme em circuito comercial ainda não está confirmada (leia abaixo).
MITOLÓGICO
"Chatô" ganhou aura mitológica. Houve quem duvidasse da existência do filme. Até então, apenas o diretor a defendia, mas não havia outro elemento que endossasse as suas declarações.
Mas, nesta quinta (12), Fontes exibiu seu filme à imprensa (leia crítica ao lado).
Em maio deste ano, a Folha antecipou que o Ministério da Justiça havia determinado a classificação indica tiva do longa (impróprio para menores de 14 anos) –a primeira prova de que ele estava finalizado.
CHANTAGISTA
A cinebiografia, inspirada na obra homônima de Fernando Morais, acompanha, de forma não linear e delirante, passagens da vida de Assis Chateaubriand (1892-1968), fundador do grupo Diários Associados, que atuou na política, ajudou a criar o Masp e também trouxe a TV ao Brasil.
Marco Ricca faz o personagem-título, retratado no filme como um chantagista mulherengo que, vitimado por um coma, delira que tem seus crimes e desvios morais julgados por um tribunal com um quê de programa de auditório.
A narrativa acompanha passagens históricas vividas –e de alguma forma influenciadas– por Chatô: a Revolução de 1930, a chegada da TV ao país e o Golpe de 1964.
PRODUÇÃO DE EXCESSOS
Requintado e repleto de detalhes e cenários, o resultado deixa bem claro que a produção foi cara: R$ 8,6 milhões captados numa época em que o cinema nacional voltava a engatinhar após anos de marasmo da Era Collor.
Foi uma produção de excessos desde a sua gestação.
Em 1995, quando a biografia "Chatô" encabeçava a lista dos mais vendidos no país, o produtor Luiz Carlos Barreto, o Barretão (de sucessos nacionais como "Dona Flor e seus Dois Maridos") ofereceu US$ 75 mil a Fernando Morais para levar a obra às telas.
Fontes, até então um ator global sem experiência em direção ou produção cinematográfica, triplicou a oferta, segundo Barretão. "Ele [Morais] quis manter a palavra comigo, mas falei: 'Pode fechar negócio'."
Nos anos seguintes, Fontes iniciou a captação de recursos incentivados e contraiu empréstimos para trazer equipamentos de última geração. E atraiu holofotes ao chamar o diretor Francis Ford Coppola como parceiro da produção. O americano declinou.
Em 1999, as filmagens começaram sem que Fontes tivesse em mãos o valor que, segundo ele, era necessário. "Meu erro foi não ter os recursos integralizados quando comecei o filme", afirma.
Colaborou RODOLFO VIANA
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