ANÁLISE
Banda que tocava em local atacado em Paris não tem nada de macabra
Barry Brecheisen - 11.set.2015/Associated Press | ||
Jesse Hughes, guitarrista do Eagles of Death Metal, durante show em Chicago, em setembro |
Se os terroristas que cometeram o massacre na casa de shows Bataclan, em Paris, escolheram como alvo o show da banda de rock Eagles of Death Metal por achar que ela pudesse ter posições políticas contrárias às suas, certamente nunca ouviram um disco da banda. A música do Eagles of Death Metal não tem nada de política ou ideologia. É diversão pura.
Nas redes sociais, alguns dizem que o nome ("Death" quer dizer "morte" em inglês) pode ter sido um chamariz, mas a verdade é que o nome é uma piada, uma brincadeira com dois estilos musicais opostos. O nome foi bolado pelo fundador da banda, Josh Homme, e é uma junção de "Eagles", famoso grupo californiano de soft-rock dos anos 70, conhecido por músicas tranquilas como o hit "Hotel California", e o "death metal", um dos gêneros mais rápidos, pesados e agressivos do rock, marcado por músicas velozes, guitarras distorcidas e letras macabras sobre morte, demônios e satanismo.
Imagine que um brasileiro inventasse uma banda chamada "Tom Jobim Punk". O espírito da piada seria o mesmo. O Eagles of Death Metal não tem nada de death metal ou de macabro. O som é alegre e festivo, um rock animado com letras que falam, basicamente, de sexo e farra.
A banda foi formada na Califórnia em 1998 por dois amigos, Jesse Hughes e Josh Homme. Este último ficou famoso com o grupo Queens of the Stone Age, que esteve recentemente no Rock in Rio. Homme considera o Eagles of Death Metal uma espécie de "férias" de seu "trabalho" no Queens, um projeto sem grandes ambições comerciais e onde a palavra de ordem é diversão.
Com Homme excursionando sempre com o Queens of the Stone Age, Jesse Hughes é quem comanda o Eagles of Death Metal. Ele compõe a maioria das músicas e faz turnês, acompanhado por músicos convidados. Homme grava todos os discos do EODM (foram quatro até o momento), mas raramente toca ao vivo com a banda. Ele não estava no fatídico show em Paris.
Jesse Hughes trouxe o EODM ao Brasil, em novembro de 2007, e tocou no clube Clash, em São Paulo. Eu era sócio-proprietário da casa na época e conheci Jesse e toda a banda. São caras divertidíssimos e simpáticos, que amam tocar ao vivo e fazem shows empolgantes e com grande interação com o público. É uma pena que uma banda tão alegre e bem humorada tenha sido alvo de um ato tão bárbaro. Felizmente, Jesse e seus companheiros escaparam com vida.
ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor de "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)
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