CRÍTICA
'Morangos Silvestres' é jornada inesquecível à mente humana
"Morangos Silvestres", lançado em dezembro de 1957 para uma trajetória cheia de prêmios e elogios da crítica, é um dos filmes ideais para apresentar o cineasta sueco Ingmar Bergman a um marinheiro de primeira viagem.
Nele coexistem traços que marcaram esse diretor genial: onirismo, falas filosóficas, alternâncias de tempos e modos narrativos, entre outros procedimentos caros ao que chamamos de cinema moderno.
É também um dos raros filmes da história do cinema que beiram a perfeição. Não há uma sequência, cena ou plano que pareça deslocado em sua impecável estrutura. Os 91 minutos de magia em preto e branco equivalem a uma jornada inesquecível pelos meandros da mente.
Eberhard Isak Borg (Victor Sjöström) é um professor aposentado que precisa dar uma pausa em sua confortável reclusão para receber uma homenagem na cidade de Lund.
Divulgação | ||
Os atores Victor Sjöström e Ingrid Thulin em "Morangos Silvestres", de Ingmar Bergman |
Viaja de carro com sua nora Marianne (Ingrid Thulin), que pretende reencontrar o marido. Ao parar na antiga casa de verão da família, Isak começa a relembrar o passado, que se materializa diante de nós. Ele passa a confrontar, então, o peso de suas escolhas.
"Morangos Silvestres" alterna presente e passado, realidade e sonho, sem qualquer cerimônia ou didatismo. O fluxo de imagens segue muito mais a dolorosa rememoração do protagonista do que uma convenção narrativa.
Há momentos em que vemos passado e presente na mesma imagem, artifício que depois seria usado por cineastas como Ettore Scola ("Nós Que Nos Amávamos Tanto") e Woody Allen ("A Outra").
Uma das cenas mais famosas é a do sonho fúnebre, logo no início do filme, em que Isak se vê perdido numa parte da cidade com ruas desertas. Vê um relógio sem ponteiros na rua, e seu relógio de bolso também está sem ponteiros. Um homem aparece de repente, e se liquefaz com um toque no ombro. Uma carroça para à sua frente, e dela cai um caixão, que se abre revelando o terror.
Merecedora das mais variadas leituras, essa cena estranha é um exemplo perfeito da maneira com que Bergman entra na mente de um homem encarando a finitude.
Victor Sjöstrom (1879-1960), foi o maior cineasta sueco nos anos 1910 e 20. Com os dramaturgos Henrik Ibsen (1828-1906) e August Strindberg (1849-1912), Sjöstrom forma a trindade que iluminou o caminho do jovem Bergman. E com mestres assim, não havia mesmo possibilidade de erro.
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