Bastidores do poder apimentam livro de memórias de Joyce Pascowitch
Joyce Pascowitch foi testemunha ocular de alguns dos eventos mais importantes da história recente do Brasil. Um deles foi o impeachment de Fernando Collor. Em julho de 1992, a então colunista da Folha publicou em primeira mão uma nota sobre a Operação Uruguai, farsa montada para explicar o padrão de vida nababesco do presidente, o que poderia livrá-lo da cassação.
A história não colou e, cinco meses depois, a maioria dos deputados foi a favor da abertura de processo contra Collor, que renunciou. Joyce estava no plenário da Câmara durante a votação que selou o destino do político.
Se a mesma situação ocorresse hoje, 23 anos depois, talvez ela não tivesse a mesma disposição de estar ali. "Eu não consigo mais ter prazer [em assistir a uma sessão da Câmara]", diz a diretora do Grupo Glamurama, aos 61 anos. "Antes, o homem ia para a política por uma questão de ideal. Isso acabou."
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Joyce Pascowitch, diretora do Grupo Glamurama e autora de 'Poder, Estilo & Ócio', em seu escritório em São Paulo |
A política nacional toma boa parte de "Poder, Estilo & Ócio", quarto livro de Joyce. Nele, a jornalista narra o que aprendeu em quase 30 anos circulando por grupos influentes. Ela avisa, por exemplo, que a melhor estratégia para frequentar tais círculos é "nadar sem provocar marola, sem fazer barulho, sem chamar a atenção".
Há pérolas ali, como um certo jantar em 1990: a colunista notou que Zélia Cardoso de Mello e Bernardo Cabral, respectivamente ministros da Economia e da Justiça de Collor, dançavam coladinhos ao som de "Bésame Mucho".
"Ele me falou algo como 'essa mulher é muito interessante'", comenta. "O ministro assumiu o romance, mas me pediu 'off'." A informação, contudo, foi ouvida por outras pessoas e, no dia seguinte, a imprensa já divulgava o relacionamento.
O namoro entre Zélia e Bernardo não durou muito, ao contrário do casamento entre poder e luxo. As duas coisas são indissociáveis, e Joyce não se furta a falar sobre estilo. No livro estão Paris e Milão, templos da moda, e a experiência da jornalista nessas cidades. Para a autora, luxo é "pegar a essência de sua cultura e usá-la com criatividade —sem gastar quase nada".
Luxo, acrescenta, também é saber envelhecer. E faz uma seleção de "mulheres que estão envelhecendo de maneira bacana": a colunista da Folha Nina Horta, as atrizes Diane Keaton e Meryl Streep, entre outras.
E quanto a Joyce Pascowitch? "Eu me incluiria nessa lista", confessa, sem falsa modéstia. "Malho todo santo dia e cada vez com mais força. Mas eu me colocaria nessa lista também porque tenho leveza em relação à vida."
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