Esnobado no Globo de Ouro, 'Carol' é forte pré-candidato ao Oscar deste ano
"Carol", filme sobre o romance entre duas mulheres nos anos 1950, tem as cores das telas melancólicas de Edward Hopper (1882-1967), o artista que pintou a solidão das cidades americanas, e a elegância gelada de uma lufada de inverno nova-iorquino.
Therese (Rooney Mara) é uma vendedora de loja de departamentos que sonha em ser fotógrafa. Carol (Cate Blanchett), uma dona de casa que vive no subúrbio, é mais velha. As duas se apaixonam de primeira, mas precisam conter a atração sob quilos de casacos de pele, luvas e cachecóis.
"Me interessava retratar a força do desejo e como ele pode tirar alguém do seu centro de gravidade", afirma o diretor, Todd Haynes, à Folha.
Esnobado no Globo de Ouro do domingo (10), embora fosse o recordista em menções (cinco, incluindo atrizes e diretor), o filme é uma das maiores apostas para o Oscar e pode cravar a sexta indicação de Blanchett e a segunda de Mara. O anúncio é na quinta (14).
"Carol" é um típico representante da vertente melodramática de Haynes, diretor com certa "bipolaridade criativa": quando ele não cai nesse gênero, como em "Longe do Paraíso" (2002), mergulha em obras cinematograficamente mais excêntricas e estridentes, como "Não Estou Lá" (2007).
"Não faço ideia de por que alterno entre esses dois polos. Acontece meio por acaso", diz o diretor, que iniciou a carreira ligado ao New Queer Cinema, movimento da virada dos anos 1980 para os 1990 encampado por nomes como Gus Van Sant e Gregg Araki e que levou os dilemas de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros para as telas.
Ainda que repita a mesma toada da obra de 2002, um melodrama conduzido por personagem feminina, "Carol" desbrava novos territórios, diz.
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Cena do filme 'Carol' |
"Nunca fiz uma história de amor com as suas convenções. E há poucas representações do amor lésbico comparado aos outros tipos de romance."
O cineasta foi achar a semente do projeto num livro de 1952 da autora texana Patricia Highsmith (1921-1995), tido como um raro retrato esperançoso de um envolvimento homossexual na década e inspirado num evento real que ocorreu à escritora.
Da obra literária, Haynes aproveita o ponto de vista, calcado em Therese, a mais jovem e inexperiente, diante da madura e vivida Carol. Mas a primeira é também a que não tem nada a perder; Carol está se divorciando e pode perder a guarda da filha caso o romance venha à tona.
"Como numa clássica história de amor, é a parte mais vulnerável que conta a história. Mas o interessante na obra é que as posições se invertem."
Em 2013, outro romance lésbico, "Azul É a Cor Mais Quente", de Abdellatif Kechiche, causou frisson pelo mundo —"Carol" vai por uma senda mais delicada, sem o fetiche "voyeur" de Kechiche e suas polêmicas tomadas das protagonistas beirando o pornô.
O desejo das personagens, porém, é igualmente intenso. A esperança de que algo pode dar certo nos conservadores anos 1950 também. "Nutrem fantasias mais reais do que aquelas que Therese vende em sua loja", afirma o cineasta.
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