Não existe novidade sobre o Holocausto em 'O Filho de Saul'

SÉRGIO ALPENDRE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Muitos se perguntam se é possível termos algo novo sobre o tema do Holocausto. Claro que sim. Na arte não importa o que se conta, mas como se conta. Em relação a "O Filho de Saul", infelizmente, o que vemos não é novo.

No longa húngaro de László Nemes há o uso de um procedimento narrativo muito parecido com o de tantos filmes mais ou menos recentes.

Desde a câmera perseguindo um personagem como se fosse um pernilongo até o trabalho com o extracampo, que implica numa caprichada edição sonora, quase tudo já foi visto antes e muitas vezes.

Muda a trama, que é pesada o suficiente para arrancar suspiros fáceis da plateia (relembrando uma provocação do crítico Inácio Araujo aqui na Folha : impressionar os impressionáveis).

Saul, um prisioneiro judeu encarregado de cremar cadáveres em um campo de extermínio, testemunha um sobrevivente da câmera de gás. É um menino, que respira com muita dificuldade.

Um oficial termina o serviço e ordena que o corpo seja levado para autópsia. Pergunta-se o que fez com que o menino resistisse ao gás letal. Saul, contudo, arruma um jeito de roubar o corpo. Dizendo ser de seu filho, ele fará de tudo para encontrar um rabino e possibilitar um fim digno para aquela vítima.

A premissa, convenhamos, não é muito animadora, e o desenvolvimento não escapa da mesmice estética do cinema contemporâneo.

No entanto, o filme venceu o grande prêmio do júri no último Festival de Cannes e tem sido elogiado por onde passa. É tido como o favorito para o Oscar de melhor filme estrangeiro (e já venceu o Globo de Ouro nessa categoria).

Isso ilustra a um só tempo a falência da crítica e dos principais festivais internacionais, sobretudo os de Berlim, Cannes e Veneza, eventos que há muito deixaram de lado a preocupação com a arte para virar puro comércio (quanto ao Oscar, penso ser desnecessário fazer comentários).

Se tem um tema, digamos, nobre, como o Holocausto, o filme tem grandes chances de angariar prêmios. E, se vence, muitos críticos elogiarão por antecipação e filas serão formadas nos cinemas.

Claro que alguns críticos elogiam por gostar mesmo do filme. Mas são muitos os que se influenciam pelo fator cada vez mais discutível das premiações, o que é lamentável.

"O Filho de Saul" não tem nada de realmente novo. É tão somente a aplicação de uma fórmula estética discutível e já muito usada em um tema que carece de representação mais original.

O FILHO DE SAUL

  • Quando estreia nesta quinta (4)
  • Elenco Géza Röhrig, Levente Molnár e Urs Rechn
  • Produção Hungria, 2015, 14 anos
  • Direção László Nemes
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