Para sociólogo ecossocialista, somos 'passageiros de um trem suicida'
Para o sociólogo Michael Löwy, os socialistas brasileiros devem escolher o caminho do meio: serem contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, sem, necessariamente, apoiarem o PT.
"Não há contradição entre defender a democracia contra ofensivas reacionárias, fundamentalmente antidemocráticas, e combater as políticas neoliberais do governo", diz, em entrevista à Folha.
Para ele, o movimento que propõe a saída de Dilma Rousseff carece de legitimidade, mas o governo também já não corresponde aos ideais de esquerda da origem do PT.
Claudio Belli/Valor/Folhapress | ||
O sociólogo paulista Michael Löwy, radicado em Paris desde 1969 |
A obra de Löwy, que defende o "ecossocialismo", é tema do livro "Michael Löwy: Marxismo e Crítica da Modernidade", do também sociólogo Fábio Mascaro Querido, pesquisador da Unicamp.
Löwy é um dos expoentes da geração de estudantes de Marx dos anos 1960 na USP, assim como Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e Roberto Schwarz. De origem paulista, mora na França desde 1969.
Seu último lançamento foi "A Jaula de Aço" (Boitempo, 2014). O título é uma referência a como Max Weber descreveu o capitalismo. Fugindo da classificação de "marxista", Löwy se diz "anticapitalista".
"O marxismo não tem vocação para ser um sistema fechado de dogmas", afirma. "Para que o marxismo e o socialismo se enriqueçam, é preciso que tenham contribuições dos movimentos sociais, ecologia, feminismo, indigenismo."
Estudar Marx sem considerar esses conflitos de interesses é inútil, para Löwy. Por ter se afastado dessa realidade, a esquerda latino-americana se enfraqueceu, diz.
"Os projetos ideais de sociedade, as utopias, são essenciais como bússola política. Mas só terão futuro se conseguirem se enraizar nas lutas concretas, aqui e agora, contra o sistema."
Por isso, o sociólogo defende que o maior inimigo dos socialistas hoje não é o conservadorismo, e sim a crise ecológica do planeta.
"Somos todos passageiros de um trem suicida que se chama civilização capitalista moderna", defende, citando Walter Benjamin, que defendia que a revolução é o "freio de emergência" no trem do progresso capitalista.
Segundo Löwy, não há como salvar o meio ambiente sem acabar antes com o capitalismo.
MICHAEL LÖWY: MARXISMO E CRÍTICA DA MODERNIDADE
AUTOR Fábio Mascaro Querido
EDITORA Boitempo
QUANTO R$ 44
Livraria da Folha
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