crítica
Fim de trilogia de fantasia diverte quem desculpar linguagem tosca
Ler o mais recente romance de Eduardo Spohr, que se tornou um bem-sucedido exemplo da nova safra de autores brasileiros de fantasia, é uma experiência esquisita.
E não é só por causa do ecletismo do elenco de personagens de "Filhos do Éden: Paraíso Perdido" (no qual convivem anjos da Bíblia e da literatura apócrifa judaico-cristã, deuses escandinavos, fadas shakespearianas e personagens da mitologia grega, entre outros entes).
Mais do que esse samba do crioulo doido mitológico, a verdadeira esquisitice é o contraste entre a linguagem desconjuntada (e, às vezes, simplesmente tosca) e o magnetismo meio viciante da narrativa: apesar de tudo, passadas as primeiras páginas, fica difícil não querer saber o que acontecerá com o trio de protagonistas.
Paula Giolito/Folhapress | ||
Retrato do escritor Eduardo Spohr na livraria Bolivar, em Copacabana, Rio de Janeiro |
É quase impossível resumir decentemente a trama rocambolesca da trilogia "Filhos do Éden", cuja parte final é este novo livro. Grosso modo, pode-se dizer que o tema é uma guerra entre facções de anjos poderosos –não apenas o confronto que transformou Lúcifer no Diabo, mas também uma briga entre os irmãos arcanjos Miguel e Gabriel, que dura desde os tempos de Cristo.
A maior parte da narrativa de "Paraíso Perdido" se passa na época atual e acompanha os anjos Kaira (sim, uma "anja"), Urakin e Denyel, partidários de Gabriel.
Dá para enxergar a influência dos suspeitos de sempre, de Tolkien a Neil Gaiman. Mas talvez a matriz mais importante sejam os manuais de RPG que já fizeram a alegria de incontáveis nerds.
Por motivos que nem as hostes angélicas são capazes de elucidar, nas cenas mais tensas ou espetaculares, o texto de repente começa a gaguejar. Mais ou menos assim:
Parágrafo.
Monossilábico.
Para.
Efeito.
Dramático.
Filhos Do Éden: Paraíso Perdido (vol.3) |
Eduardo Spohr |
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Se o leitor for capaz de fazer vistas grossas para tais defeitos, o livro às vezes é tão divertido e empolgante quanto uma boa sessão de RPG.
"A qualquer hora que precisar, conte comigo. Páscoa, Natal, Corpus Christi, Finados, eu nunca paro", diz Lúcifer a Kaira em dado momento. Nenhum romance no qual o Capeta seja capaz de pronunciar uma frase dessas pode ser de todo ruim, certo?
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