CRÍTICA
Prazer de 'Dois Caras Legais' não está na trama, mas nas piadas
Logo que surge o título na tipografia Dreamland e começa a tocar a climática abertura de "Papa Was a Rollin' Stone", a reação imediata é: estamos nos anos 1970.
As camisas de estampas havaianas que o personagem brucutu de Russell Crowe veste e o bigode no estilo cafajeste de Ryan Gosling tiram qualquer dúvida.
Sim, "Dois Caras Legais" é uma máquina do tempo embalada por hits de Earth, Wind & Fire, Kool & The Gang e America.
O diretor e roteirista Shane Black reúsa a velha e boa fórmula do "buddy movie" –o filme que junta dois tipos que têm tudo para dar errado, mas se completam– numa intriga-colagem que mistura mundo pornô, ricos corruptos e o que, láááá atrás, era chamado de "festa de embalo".
Divulgação | ||
Gosling (esq.) e Crowe em cena do 'buddy movie' 'Dois Caras Legais' |
A trama, como as letras de dance music, é do tipo para prestar nenhuma atenção. O prazer vem do ritmo, dos climas e das piadas cifradas que o roteirista-diretor espalha para o público de sua geração de tiozões entender e dar risadas.
Mas nem precisa saber quem era John-Boy para gostar de "Dois Caras Legais". Shane Black escreve com o treino de quem estreou no cinema com o roteiro de "Máquina Mortífera" (1987). Quando passou a dirigir, com "Tiros e Beijos" (2005), demonstrou estar ainda mais atento a cada linha de diálogo do que à eficácia do conjunto.
O que ele oferece em "Dois Caras Legais" é uma paródia, uma comédia que retorna à década de 1970 para dizer como tudo aquilo, visto de hoje, pode parecer incrível, sem deixar também de mostrar como era falso e cafona.
Ao contrário dos pastiches do cinema americano dos anos 1970 com que cineastas como James Gray e Paul Thomas Anderson ganharam aura de autores, "Dois Caras Legais" não vai ao passado para reivindicá-lo, mas para rir dele.
Afinal, Shane Black já não era criança quando viveu aquilo e sabe que a tal profundidade é ilusão de óptica.
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