crítica
Em adaptação de Visniec, grupo de teatro faz renovação importante
O interesse que a dramaturgia de Matei Visniec desperta entre atores e diretores brasileiros acaba de gerar "Adeus, Palhaços Mortos!". Com direção de José Roberto Jardim, é uma releitura de "Pequenos Trabalhos para Velhos Palhaços" (1986), última peça escrita em romeno por Visniec antes ir à França, como refugiado do regime de Ceausescu.
Trata de três clowns que por acaso se reencontram, anos depois de terem trabalhado juntos. Mas terão de disputar entre si uma única vaga de emprego, talvez a última chance para artistas que a idade avançada torna descartáveis na indústria do entretenimento.
Impõe-se um confinamento que lembra "Esperando Godot", de Beckett, e os três condenados ao inferno de "Entre Quatro Paredes", de Sartre, uma influência realçada por Jardim ao aprisionar seus "palhaços mortos" num cubo transparente em que são projetadas luzes psicodélicas, estranha alusão à euforia contracultural dos anos 1960 e 70 em contraste com o sombrio presente pós-utópico.
As vozes distorcidas, entremeadas pelos ruídos eletroacústicos, levam a novos patamares o "fora de tom, fora de harmonia" implícito ao conceito de absurdo –marca uma das maiores influências de Visniec, seu conterrâneo e antecessor Eugène Ionesco.
A encenação problematiza a crise da própria arte, sob a tirania do entretenimento barato e suas apelações –como, queixa-se um dos personagens em certo momento, as peças cheias de pirotecnias e gritarias, caso desta própria montagem, que parece querer assim deliberadamente assustar, irritar, com prejuízo para a sutileza poética sugerida pelo texto original.
Após anos pesquisando tradições populares como o circo-teatro, a trupe pactua com Visniec um momento importante de renovação ao abraçar novas estéticas e após terem, eles próprios, sido palhaços no limbo, numa crise gerada, no ano passado, pelo incêndio da Kombi em que realizavam suas peças.
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