Marcelo Rubens Paiva e Clemente lançam livro sobre punk paulistano
Cícero - 27.nov.1982/Folhapress | ||
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Punk com corte moicano no festival O Começo do Fim do Mundo, em novembro de 1982 |
Em 1982, Marcelo Rubens Paiva estudava na ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP), começava a usar a cadeira de rodas que o acompanha desde o acidente em um mergulho num lago e preparava sua autobiografia precoce, "Feliz Ano Velho", lançada no fim daquele ano e um best-seller da década.
Em 1982, Clemente tocava na banda Inocentes, a principal do movimento punk paulistano, e cantava nos shows "Pânico em SP", hino daquela geração. Em novembro, ele participou do festival O Começo do Fim do Mundo, no Sesc Pompeia, que reuniu 20 bandas do gênero e "oficializou" o punk no Brasil.
Os dois eram amigos. Marcelo frequentava shows punks na PUC. Hoje, os cinquentões se unem para lançar "Meninos em Fúria", um relato daquele ano a quatro mãos.
Reprodução | ||
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Clemente (ao centro), em um momento de vigor juvenil |
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Folha - Por que voltar a 1982?
Marcelo Paiva - Uma época em que a cultura tinha mensagem, as pessoas criavam para transmitir ideias. Era mais importante que a mise-in-scène. É importante mostrar para o Brasil esse tempo em que a gente não ligava para sucesso, para a grana.
Clemente - Hoje eu faço programa de rádio e tem banda hardcore que fica pedindo para que eu toque seu disco. No tempo em que eu fazia hardcore era justamente para não tocar no rádio!
Paiva - E quando os caras iam ao Chacrinha? Banda que aparecia no Chacrinha era excomungada da turma. Agora todo mundo quer ir naquele programa do Paulo Ricardo, o "SuperStar".
A gente achava que a cultura tinha uma função, de resgatar valores inconformistas, revolucionários. Havia uma geração periférica que queria falar de seus problemas, sem eco na grande mídia.
Clemente - Em nenhuma mídia, só nos fanzines punks.
Paiva - Esse vazio cultural que existe hoje é contrastante com a identificação que a juventude daquela época tinha com a música, uma ligação visceral. Você não era fã dos caras, era amigo, seguidor.
A minha turma na ECA foi muito ligada ao movimento punk, nosso trote foi um show das Mercenárias, Ratos do Porão, Ira! e Excomungados, uma banda da faculdade. Eu me coloquei no livro porque era um moleque tentando reconstruir a vida no meio dos punks. Minha namorada era garçonete numa balada punk.
Para mim, Inocentes era a melhor banda da época.
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
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Clemente e Marcelo Rubens Paiva, os autores do livro |
Clemente - No festival O Começo do Fim do Mundo, todas as bandas usaram o meu baixo! Por isso que a minha banda era boa, a gente tinha instrumentos!
Paiva - E aí eu encontro esse cara [aponta para Clemente] no dia a dia, na rua, na Teodoro Sampaio, avenida Paulista. Pô, o cara mais importante do rock brasileiro, trampando por aí, ralando, funcionário público!
Eu tive a ideia do livro, e Clemente tinha vontade de escrever sobre a época, já tinha algumas coisas. Acho 1982 um ano mágico. Foi o ano da Blitz, os shows no Salão Beta da PUC, as casas novas, Napalm, Carbono 14.
Clemente - Foi a verdadeira cisão entre a década de 1970 e a de 1980. Ninguém sabia que revolução era aquela.
Meninos Em Fúria |
Marcelo Rubens Paiva, Clemente Nascimento |
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Paiva - A ditadura ia acabar, a TV era uma caretice só, os jornais não cobriam a cena cultural da periferia.
Clemente - Apesar das brigas, era todo mundo unido. Rolava festival de dez bandas numa noite. E o Edgard Scandurra tocava em umas seis!
MENINOS EM FÚRIA
AUTORES Marcelo Rubens Paiva e Clemente Tadeu Nascimento
EDITORA Alfaguara
QUANTO R$ 39,90 (224 págs.)
Livraria da Folha
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