'Entubados' prova que celebridades digitais são um capital valioso
Daniela Busoli acertou o alvo. Quando criou o "Entubados", reality que termina nesta quarta (5) no canal pago Sony, a produtora da Formata tinha em mente os filhos, de 7 a 9 anos, que não viam mais TV, mas não descolavam os olhos do YouTube.
Armou-se de pesos-pesados da plataforma de vídeo digital, como Gusta Stockler, Lucas Lira, Pyong Lee, Daniel Saboya, Isadora Becker, Malena, Taciele Alcolea e Taty Ferreira. Juntos, eles somam 23 milhões de fãs no YouTube.
Depois, decidiu confiná-los, duas vezes por semana, em um reality show, gênero favorito dos telespectadores nas redes sociais, em que competiam entre si em gincanas e criando vídeos, justamente, para o YouTube. O prêmio é uma viagem a Los Angeles, onde poderão entrevistar Adam Levine e Miley Cyrus, justamente, para alimentar seus canais na internet.
Divulgação | ||
Participantes do reality show "Entubados", da Sony |
Por fim, Daniela escalou o humorista Danilo Gentili, apresentador do talk show "The Noite" (SBT) e quarta personalidade mais influente no Brasil, segundo pesquisa do instituto Provokers divulgada na semana passada pelo jornal "Meio & Mensagem".
Cocriador do "Entubados", Gentili só perde em popularidade para Luciano Huck e outros dois youtubers: o piauiense Whindersson Nunes, que acaba de ultrapassar o "Porta dos Fundos" em número de fãs na plataforma, e a dupla Leon e Nilce.
Desde que estreou, em agosto, o reality dobrou a audiência da Sony no horário em que vai ao ar. E quadruplicou o público de 12 a 24 anos, justamente a faixa etária dos que acompanham as estrelas do "Entubados" no YouTube.
Todas as cinco cotas de patrocínio do programa foram vendidas à GM. O sucesso do "Entubados", que pode ser renovado em 2017 e já desperta interesse de licenciamento em canais estrangeiros, prova que celebridades digitais são um capital valioso e cada vez mais cortejado pelos canais de TV.
Só neste semestre, a televisão deu três programas aos youtubers em que não eram eles que se adaptavam ao veículo, mas o contrário. Além do "Entubados", O "Desimpedidos", no Fox Sports, levou os quadros e o formato do canal esportivo do YouTube para a emissora a cabo.
Também começou nesse mês o "Programa do Porchat", na Record. Apesar da carreira na TV aberta, teatro e cinema, Fábio Porchat atribui a sua contratação em para um programa solo ao sucesso na internet do "Porta dos Fundos", que soma quase 3 bilhões de visualizações desde 2012.
Meses antes, a MTV estreou o "Ridículos", com o blogueiro Hugo Gloss. Ele é o terceiro influenciador digital que os jovens mais querem ver na TV, segundo pesquisa da GfK divulgada na semana passada. Perde para Lucas Lira (que está no "Entubados") e a confeiteira Danielle Noce, contratada no canal pago Food Network.
A migração de figuras da internet para a televisão acontece há pelo menos meia década. PC Siqueira apresentou um programa na MTV em 2011. Kéfera Buchmann foi contratada da Mix TV.
A novidade é que, agora, as emissoras não tentam enquadrar os youtubers, mas o caminho contrário: criam programas aos moldes dos vídeos da internet e dão às "webcelebridades" um lugar à mesa na equipe de criação.
A mudança mira nos brasileiros de 14 a 25 anos, justamente o público que o "Entubados" resgatou para a TV.
Em 2015, os jovens gastaram tanto tempo na frente da televisão (20 horas semanais) quanto com os olhos grudados na tela do celular m vendo vídeos (19,7 horas). Os dados são de uma pesquisa também do instituto Provokers, a pedido do YouTube e do jornal "Meio & Mensagem".
"A desconfiança [deles] antes de vir para a TV não é pequena. Dizem: 'daqui a pouco vocês vão querer tomar nossos talentos e o formato", conta Eduardo Zebini, executivo da Fox Sports.
Na TV, podem ganhar o que o mercado publicitário chama de "awareness", ou o conhecimento espontâneo do público. Kéfera, com 9,2 milhões de fãs no YouTube, é reconhecida instantaneamente por 41% dos 200 entrevistados em um levantamento da consultoria Ilumeo a pedido da Folha –a métrica é adotada por agências e empresas como a Coca-Cola. A média de grandes celebridades é de 70%. e chega a 90% para nomes como Ivete Sangalo, Neymar e Faustão.
O Fox Sports deu liberdade ao "Desimpedidos" para criar um programa na mesma linha do que fazem no YouTube, onde têm 2,6 milhões de fãs: "zueira" com jogadores de futebol, desafios e um quadro de karaokê boleiro.
A Fox já tinha adotado modelo parecido com o "Porta dos Fundos" em 2014, ao reunir as esquetes do grupo em episódios. O SBT estreou, em 2015, o "Acelerados", em que reproduz os vídeos do canal no YouTube de Rubens Barrichello sobre automobilismo.
A Globo mapeia talentos digitais desde 2014, segundo a diretora artística Mônica Albuquerque. Ela diz que "ainda não há determinação para ter youtubers nos programas", mas ressalta a colaboração deles em algumas atrações.
Como Maddu Magalhães, que participa do "É de Casa". E a equipe de roteiristas do "Adnight", talk show de Marcelo Adnet que estreou na noite quinta (25), escalou Mauricio Cid, do site "Não Salvo", e Juliano Enrico e Pedro HMC, do canal "Põe na Roda".
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