RÉPLICA
Uma crítica pode arrasar filmes, mas deve ir além do gosto pessoal
Para que serve a crítica?
Naief Haddad, que escreveu sobre o filme "Magal e os Formigas", que eu dirigi, começa perguntando: para que serve um filme assim?
Depois, diz que as piadas são ruins. E que Sidney Magal está caricato.
Eu me pergunto: para que serve uma "crítica" assim?
É claro que a crítica tem o direito de arrasar filmes. Mas, para ser uma "crítica profissional", ela deve ir além do gosto pessoal. Caso contrário é apenas um pitaco de amador.
Para ir além do pitaco, é preciso que o crítico tenha repertório estético para entender o projeto do filme. Um exemplo: dentro do projeto, falar que Magal está caricato é um elogio.
Outro crítico de jornal, mais perspicaz, percebeu o parentesco de "Magal e os Formigas" com "Feios, Sujos e Malvados, de Ettore Scola, que trabalha artisticamente com caricaturas.
Isso é atentar ao projeto. Não foi o que Naief fez.
Ele diz ainda que as piadas não têm graça. OK, ele não riu. Mas o que devo dizer ao público que ri nas sessões? O Teste de Audiência, uma pesquisa independente, mostrou que a plateia ri e se emociona com o filme.
Isso não conta? Naief escreveu uma "crítica de autor" que ignora o público?
Naief me lembrou um vegano que critica uma feijoada por ela não ter gosto de abobrinha.
Por sorte, há muitos críticos bons que escreveram sobre o filme e perceberam como ele tropicaliza a comédia italiana e insere elementos de humor nonsense.
Mas foi apenas a opinião de Naief que determinou a pontuação do filme no "Guia Folha". Um desserviço aos leitores deste jornal.
NEWTON CANNITO é cineasta e roteirista
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade