Diretor: Novatos de assinatura incisiva são os favoritos ao prêmio neste ano

SÉRGIO ALPENDRE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O diretor é o verdadeiro autor de um filme. Ou seja, é sua a assinatura das inúmeras decisões (de câmera, atuação, tom, etc.) que irão determinar o sucesso ou o fracasso de uma produção.

Na categoria, têm mais chances dois diretores jovens, porém incisivos – Damien Chazelle, de "La La Land", e Barry Jenkins, de "Moonlight". Os outros, se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood fosse coerente, teriam poucas chances.

Damien Chazelle, por "La La Land - Cantando Estações"
Talvez seja a hora de Damien Chazelle levar a estatueta de diretor para casa. Seu longa anterior, "Whiplash - Em Busca da Perfeição", o segundo de sua carreira, já fez surpreendente carreira comercial e dentro da Academia, tendo sido um dos indicados para melhor filme de 2014. Desta vez, seu "La La Land" acumula 14 indicações, tornando-o o maior favorito da disputa em muito tempo (ou o maior fracasso, caso saia apenas com prêmios menos importantes). O musical escapista de Chazelle, superestimado, mas longe de desprezível, tem a direção mais incisiva (para alguns, exibicionista) entre os indicados, com a câmera se mexendo sem parar, rodopiando em torno dos atores como se estivesse no filme mais ensandecido de Scorsese.

Crédito: Divulgação Moonlight - Sob a luz do luar [Moonlight, Estados Unidos, 2016], de Barry Jenkins (Diamond Films). Gênero: drama. Elenco: Mahershala Ali, Naomi Harris, Janelle Monae ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Alex Hibbert vive o protagonista na infância em 'Moonlight', segundo filme do diretor Barry Jenkins

Barry Jenkins, por "Moonlight - Sob a Luz da Lua"
No irregular drama "Moonlight", segundo longa de Barry Jenkins, também temos momentos incisivos, com a câmera movendo-se alucinadamente, sobretudo no início. Em outros, a câmera passeia pelos ambientes meio trôpega, nervosa, ficando mais calma nos momentos melancólicos da terceira parte.Premiar Jenkins, no caso, seria compensar a falta de indicação no ano passado para um outro diretor negro de direção maneirista: Ryan Coogler, por "Creed: Nascido para Lutar". Mas será que na cabeça dos membros da Academia uma indicação já não estaria o suficiente como compensação racial?

Crédito: Divulgação Cena do filme "A Chegada"
Amy Adams em cena de 'A Chegada', pelo qual o diretor canadense Denis Villeneuve tenta o Oscar

Denis Villeneuve, por "A Chegada"
O cinema de Villeneuve tende a ganhar quando ele dá liberdade aos atores, e mais ainda quando conta com um roteiro bem organizado. Isso acontece quanto trabalha em Hollywood, sendo obrigado a se anular na direção, evitando assim os horríveis malabarismos de seus filmes canadenses. "A Chegada", convenhamos, é um filme todo de Amy Adams, a maior atriz de sua geração. Como ela nem foi indicada em sua categoria, não dá para saber o que se passa na cabeça da maioria dos votantes (se é que se passa algo). Sendo assim, tudo pode acontecer, e Villeneuve pode ganhar um Oscar de direção por um filme que é claramente feito pela arte de uma grande atriz.

Crédito: Divulgação Manchester a beira-mar [Manchester by the sea, Estados Unidos, 2016], de Kenneth Lonergan (Sony). Genero: drama. Elenco: Casey Affleck, Kyle Chandler, Michelle Williams ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Casey Affleck é Lee Chandler no talvez contido demais 'Manchester à Beira-Mar', de Kenneth Lonergan

Kenneth Lonergan, por "Manchester À Beira-Mar"
Kenneth Lonergan tem sido bastante elogiado pela direção de seus longas, e com este "Manchester à Beira-Mar", seu terceiro, não foi diferente. Mas, pensemos: sua direção, neste filme, não é bastante contida, quase acadêmica? Só na trilha sonora há algum risco. No mais, o drama é encenado de forma correta, mas sem muito brilho. Por mais que sobrem elogios à atuação de Casey Affleck, também não se pode dizer que é um filme de ator. Há um certo equilíbrio entre as funções técnicas e artísticas do longa, o que pode ser considerado seu trunfo. Mas não é o melhor de nada.

Crédito: Divulgação Ate o ultimo homem [Hacksaw ridge, Estados Unidos, Austrália, 2016], de Mel Gibson (Diamond Films). Gênero: biografia. Elenco: Teresa Palmer, Luke Bracey, Hugo Weaving ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Andrew Garfield (com o saco no ombro) é o protagonista do filme que marca retorno de Mel Gibson

Mel Gibson, por "Até O Último Homem"
Muito se esperava esse retorno de Mel Gibson à direção, dez anos após o constrangedor "Apocalypto". Seja por curiosidade, zombaria ou genuína admiração, Gibson, que tem lá seus fãs, não podia mesmo ser considerado uma página rasgada. Se "Até o Último Homem" tem qualidades, elas estão no incrível realismo das cenas de batalha. Por outro lado, Gibson escorrega no sentimentalismo barato e exagera na necessidade de provar seus pontos de vista (o protagonista, religioso e "opositor consciente", vai sempre até o fim no que foi determinado a fazer). O fato de não haver negros no filme alimentou novas acusações de racismo, e vai contra o necessário combate à discriminação racial, mal que ainda está longe de ser destruído.


Veja a lista das outras categorias comentadas por profissionais, críticos e colaboradores da Folha.

Melhor filme, por Inácio Araujo
Melhor filme estrangeiro, por Cássio Starling Carlos
Melhor animação, por Sandro Macedo
Melhor documentário, por Aline Pellegrini
Melhor documentário de curta-metragem, por Lívia Sampaio
Melhor roteiro original, por Francesca Angiolillo
Melhor roteiro adaptado, por Francesca Angiolillo
Melhor ator, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz, por Teté Ribeiro
Melhor ator coadjuvante, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz coadjuvante, por Teté Ribeiro
Melhor fotografia, por Daigo Oliva
Melhor montagem, por Matheus Magenta
Melhor direção de arte, por Guilherme Genestreti
Melhor trilha sonora, por Alex Kidd
Melhor canção original, por Giuliana Vallone
Melhor figurino, por Pedro Diniz
Melhor maquiagem e penteado, por Anna Virginia Balloussier

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