Peça com Luis Lobianco celebra vida de travesti assassinada em Portugal
Elisa Mendes/Divulgação | ||
Luis Lobianco em cena do espetáculo "Gisberta" |
"A vida de travesti é uma ilha cercada de dor por todos os lados. Para pessoas como eu, viver é sinônimo de resistência." A frase é um bom resumo da trajetória de Gisberta Salce Júnior, transexual paulistana assassinada em Portugal em 2006, cuja história chega agora aos palcos.
Projeto do ator Luis Lobianco, 35, uma das estrelas do Porta dos Fundos, o monólogo "Gisberta" narra a vida da travesti que deixou São Paulo em 1979, aos 18 anos, para fugir da transfobia, mas acabou morta no Porto em 2006 após ser torturada por um grupo de 14 menores de idade.
"Em Portugal, todo mundo conhece essa história. No Brasil, não. E aqui Gisbertas morrem dessa forma todos os dias. Isso me assusta e me fez querer falar disso", diz Lobianco.
O ator se deparou com a história ao atentar para a letra de "Balada de Gisberta", do português Pedro Abrunhosa, na voz de Maria Bethânia. Interessou-se e pesquisou a vida de Gis, entrevistando a família e tendo acesso a suas cartas para as irmãs.
A peça, no entanto, não se resume a Lobianco encarnando a personagem-título. Ele também dá vida a personagens fictícios que falam de Gisberta a partir de perspectivas diferentes: uma irmã (que representa as três irmãs reais), um fã português, uma colega de trabalho nos cabarés.
"Em nenhum momento imaginei falar por ela, me transformar nesse personagem. Queria contar a história dela", diz o ator. "A peça é a observação das pessoas em volta sobre alguém que não está presente."
Além dele, há três músicos em cena, fazendo uma trilha original –também com a intenção de atenuar o peso da narrativa.
"A história é muito forte, não queríamos dar um tratamento de tragédia", diz o diretor, Renato Carrera. "Queríamos falar do ser humano, quem era essa pessoa que foi tão amada."
O texto também incorpora trechos da sentença do juiz responsável pelo caso em Portugal, que classificou a morte da transexual como uma "brincadeira de mau gosto que correu mal".
O magistrado decidiu que os menores não tiveram intenção de matá-la e que não era possível provar que foram movidos por "intolerância perante a opção sexual" da "infeliz vítima". Condenou-os por agressão e omissão de socorro, com pena máxima de 13 meses de detenção.
"A voz do veredito é muito a da sociedade. E aí você vê que esses crimes vão acontecer sempre, porque a sociedade não quer olhar para as pessoas trans. Ela prefere amenizar tudo e seguimos do jeito que está", diz Lobianco.
O monólogo estreou no CCBB do Rio no início deste mês e fica em cartaz até 30 de abril, antes de seguir para Belo Horizonte e Brasília.
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GISBERTA
QUANDO qui. a dom., às 19h30; até 30/4
ONDE CCBB Rio, r. Primeiro de Março, 66, centro, Rio; tel. (21) 3808-2020
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
Livraria da Folha
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