CRÍTICA
Leveza vira superficialidade em drama nacional
Divulgação | ||
Glória (Carolina Ferraz) e Graça (Sandra Corveloni) no longa nacional de Flávio Ramos Tambellini |
Produtor de sucesso e realizador bissexto, Flávio Ramos Tambellini volta à direção com "A Glória e a Graça", drama sobre dois assuntos atuais e delicados: o reordenamento familiar e a diversidade sexual.
Ao tentar tratá-los de maneira leve, no entanto, o longa acaba sendo superficial.
A trama gira em torno da relação entre a massoterapeuta Graça (Sandra Corveloni) e sua irmã Glória (Carolina Ferraz), travesti dona de um badalado restaurante.
Elas retomam o contato depois de 15 anos de rompimento, ocorrido quando Glória ainda era Luiz Carlos.
A iniciativa da reaproximação –tomada com relutância– é de Graça, quando fica sabendo que tem um aneurisma e pode morrer a qualquer momento.
Ela não tem nenhum familiar com exceção de Glória para exercer a guarda dos dois filhos, Papoula (Sofia Marques), de 15 anos, e Moreno (Vicente Demori), de 8.
A escolha de Carolina Ferraz para o papel do travesti num filme que fala de transexualidade é um contrassenso. Ela faz um trabalho satisfatório, mas perdeu-se uma rara ocasião para dar visibilidade a um ator travesti, algo muito mais coerente. As duas figuras centrais são prejudicadas por clichês e inconsistências.
Mãe solteira, Graça tem jeito de alternativa, como indicam sua profissão e o nome dos filhos. Apesar disso, em vários momentos expressa pontos de vista retrógrados, mostrando dificuldade em aceitar as escolhas de Glória e preocupação que esta eduque o filho como se fosse mulher.
Por seu lado, se Glória rompe os padrões sendo uma empresária de sucesso, tem aquela exuberância caricatural nos gestos e no falar.
À medida que avança, a história cai no artificialismo, ganhando contornos melodramáticos, enquanto Glória entra em estado de graça e passa a ocupar lugar central.
Os acontecimentos se precipitam: Glória explicita sua mágoa com a irmã, passa a ter uma relação cheia de compreensão com Papoula e Moreno –algo que a mãe é incapaz de construir– e finalmente conhece o amor de sua vida. Tudo para enternecer e confortar o espectador.
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