CRÍTICA
Documentário aborda traumas de mulheres vítimas de violência
Espaço de reflexão social, o documentário se presta a apresentar questões de ontem e de hoje, elaboradas, se possível, a partir de relatos em primeira pessoa.
É o que a diretora Sandra Werneck ("Cazuza, o Tempo Não Para" e "Meninas") faz com um tema transversal na história, mas que só ganhou relevo e urgência no debate contemporâneo.
"Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas" adota como título o slogan das ruas e a hashtag das redes criada pelo movimento feminista e, com ele, aborda a violência contra a mulher nas suas mais variadas formas a partir da voz de suas vítimas.
Roberta Carvalho/Divulgação | ||
Projeção da campanha Mexeu com Uma, Mexeu com Todas realizada pela artista Roberta Carvalho |
Com depoimentos de mulheres conhecidas e anônimas, ricas e pobres, brancas e negras que compartilham histórias de agressões, de medo e de culpa, o filme expõe o controle, a ameaça e a violência psicológica, revela o abuso sexual infantil e o estupro, mesmo dentro do casamento, denuncia o espancamento, o tiro e a morte.
O longa traz dois casos de mulheres que emprestaram seus nomes a leis criadas para proteger vítimas deste tipo de violência: a farmacêutica cearense Maria da Penha e a nadadora pernambucana Joanna Maranhão.
A primeira, condenada à cadeira de rodas após levar um tiro nas costas do próprio marido, que mesmo condenado seguia em liberdade, deu origem à lei criada para aumentar o rigor das penas para crimes de violência doméstica e criar mecanismos de proteção da mulher.
Já a atleta Joanna Maranhão conta ter sido abusada sistematicamente por seu treinador ainda criança. Quando reuniu clareza sobre o ocorrido e coragem para buscar reparação, o crime já havia prescrito, portanto, não havia possibilidade de punição.
A lei que leva seu nome faz com que o prazo para prescrição deste tipo de crime só comece a contar quando a vítima completar 18 anos.
A modelo Luiza Brunet e a escritora Clara Averbuck também compartilham suas histórias de violência e as cicatrizes que elas deixaram em suas vidas para sempre.
Foi assim com a cabeleireira Alessandra, que perdeu a irmã num atropelamento intencional que tinha ela como alvo e o ex-marido no volante. Também com a professora Aline, estuprada dentro da própria casa por um vizinho e humilhada pelo delegado de plantão.
Em comum, além da vulnerabilidade, essas mulheres estão imersas no mesmo cenário perverso: um país onde, a cada hora, cinco mulheres são estupradas e outras 500 são agredidas fisicamente chamado Brasil.
Ao intercalar os relatos íntimos dessas mulheres com cenas das recentes manifestações feministas que tomaram as ruas do país com cartazes e palavras de ordem, "Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas" joga luz numa questão social há muito encoberta e desassistida que, amparada na força do grupo, parece não querer mais calar.
Com isso, mapeia parte do processo de transformação de um tabu em grito de guerra.
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