Crítica
'Inseparáveis' se conforma a viver na sombra de longa francês
Divulgação | ||
Cena do filme 'Inseparáveis', inspirado no sucesso francês 'Intocáveis' |
INSEPARÁVEIS (regular)
QUANDO: EM CARTAZ
PRODUÇÃO: ARGENTINA, 2016, 14 ANOS
DIREÇÃO: MARCOS CARNEVALE
*
Nada se cria, tudo se copia. O ditado é levado à risca em "Inseparáveis", filme dirigido pelo argentino Marcos Carnevale inspirado no sucesso francês "Intocáveis" (2011).
A bem da verdade, inspirado não é exatamente a palavra. O remake sobre a relação do tetraplégico milionário Philippe (François Cluzet) com seu cuidador Driss (Omar Sy) traz aos cinemas nada mais do que uma reprodução fiel da versão original.
Repetem-se enquadramentos, planos, diálogos, piadas, músicas e dramas. A impressão é que Carnevale seguiu passo a passo o roteiro do longa francês, ainda fresco na memória dos espectadores.
A diferença é protocolar. À exceção do idioma, tais mudanças apenas confirmam que "Inseparáveis" —tal como denuncia o título— foi concebido para ser "Intocáveis", do início ao fim.
Literalmente do início ao fim. Da cena de abertura ao último letreiro, aqueles que assistiram à comédia dramática dos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano devem experimentar uma sensação ininterrupta de déjà vu.
Na refilmagem argentina, ambientada em Buenos Aires, Oscar Martínez vive o empresário tetraplégico Felipe.
Embora bem ajustado ao papel, Martínez tem poucas chances de criar algo novo. Sua função resume-se a repetir as expressões e a traduzir para o espanhol as falas ditas por Cluzet.
Rodrigo de la Serna interpreta Tito, o cuidador despachado de Felipe. Menos carismático do que o Driss de Omar Sy, De la Serna exagera na atuação e dá ar abobalhado ao personagem.
Em ambos os casos, são jovens pobres e desfavorecidos.
Mas aqui há uma alteração significativa entre as versões. Driss é um imigrante negro e, por isso, o racismo também entra em pauta na discussão sobre os excluídos.
Alejandra Flechner (Ivonne) e Carla Peterson (Verónica) completam o elenco.
Assim como seus pares, elas cumprem a tarefa de resgatar com precisão as situações encenadas por Anne Le Ny (Yvonne) e Audrey Fleurot (Magalie).
Aos que não conhecem a história, a obra argentina pode ser uma surpresa boa.
Há sensibilidade, comédia e uma dose equilibrada de drama —acertos herdados da produção original.
Esse é o grande problema. "Inseparáveis" se conforma a viver na sombra de "Intocáveis". Para quem viu o filme francês, o remake se torna uma mera comparação.
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