CRÍTICA
Francês 'Um Instante de Amor' é como champanhe em copo plástico
Divulgação | ||
Cena do longa francês 'Um Instante de Amor' |
UM INSTANTE DE AMOR (regular)
(Mal de Pierres)
DIREÇÃO Nicole Garcia
ELENCO Marion Cotillard, Louis Garrel, Alex Brendemühl
PRODUÇÃO França/Bélgica/Canadá, 2016, 14 anos
Veja salas e horários de exibição
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Ninguém duvida que o cinema seja uma das mais bem-sucedidas indústrias. E poucos discordam que em grande parte isso também produza arte. Por isso, ainda bem, não existem receitas que façam todo filme dar certo.
"Um Instante de Amor" é um exemplo de como a indústria, no caso o cinema francês, especializou-se num tipo de produto, o chamado filme de arte, e os exporta sabendo que muita gente os consumirá por status, como queijos e vinhos.
O melodrama traz Marion Cotillard, estrela francesa de alcance global, no papel de uma mulher fora dos padrões de sua época. Sob o impulso de uma sexualidade exacerbada, Gabrielle é consumida por paixões, ignora as fronteiras entre ficção e realidade e converte em mal-estar físico seu padecimento mental.
Antes da psicanálise, ela seria tratada como histérica.
A história do filme começa nos anos 1940, o que não significa grandes progressos morais. Portanto, a família acredita que só exista um remédio para domá-la: um bom marido.
A sobrecarga de sua energia sexual, no entanto, sempre transborda e provoca um curto-circuito sentimental quando ela é enviada para uma estação de águas para se curar de cálculos que a impedem de ter filhos.
O encontro com o jovem ator Louis Garrel, no papel de par romântico em estado terminal, completa o quadro azul-branco-vermelho composto para autenticar a noção de filme francês que o grande público reconhece.
Nicole Garcia, atriz sólida que se tornou realizadora prestigiada, focaliza-se no trabalho de interpretação de sua estrela. Cotillard sofre, atira-se ao abismo, equilibra-se no fio entre intensidade e fragilidades, ou seja, faz bem o que se espera dela desde o Oscar pelo papel de Edith Piaf.
Assistir ao trailer de "Um Instante de Amor"
A desvantagem de apostar todas as fichas num único elemento, mesmo que seja o mais forte, é que isso desestabiliza o conjunto e faz do filme uma sinfonia de uma nota só.
É inegavelmente prazeroso ver Cotillard sofrer, vestir roupas lindas, desfilar sua beleza tênue em cenários de cinema. Mas seu brilho torna tudo em volta desmaiado e inconsistente.
Sem apoio ou contrastes, as qualidades de Cotillard em "Um Instante de Amor" causam a mesma impressão que um bom champanhe servido em copo de plástico.
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