CRÍTICA
Leia 'In Utero' enquanto escuta o disco do Nirvana seis ou sete vezes
NIRVANA - IN UTERO (BOM)
AUTORA Gillian G. Gaar
TRADUÇÃO Alyne Azuma
EDITORA Cobogó
QUANTO R$ 38 (112 págs.)
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Ler "Nirvana - In Utero", da coleção O Livro do Disco, da americana Gillian Gaar, é como ouvir ao próprio LP de 1993: uma alternância de passagens sensacionais com outras mais ou menos e uma coisa chata no meio também.
É que a autora não tem um texto empolgante, apesar do conhecimento de causa: ela é de Seattle, mesma região da banda, e escreveu em 2012 "Entertain Us: The Rise of Nirvana", um livro de 382 páginas que se concentra no período pré-fama de Kurt Cobain e seus amigos.
Esse "In Utero" é bem mais ligeiro: pode ser lido em uma tarde, enquanto vocês escuta o álbum (de 41 minutos) umas seis ou sete vezes.
A história avança friamente pelas sessões de estúdio em que o Nirvana ensaia as músicas de "In Utero". A julgar pela descrição de Gaar, os ensaios foram um cacete só (no sentido de enfado, não no de música punk rock brutal).
Para nós, o capítulo 5 traz grande interesse. A banda esteve aqui em janeiro de 1993 para shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. No Rio, gravou na BMG Ariola:
"A faixa mais impressionante daquela sessão foi a primeira canção gravada, 'Heart-Shaped Box'. Montgomery [Craig, engenheiro de gravação] se lembra de ouvi-la pela primeira vez na passagem de som da banda em São Paulo. 'Mesmo naquela época, Kurt sabia que aquele seria o single', ele conta."
O livro de Gaar fica melhor quando entramos no estúdio com o produtor Steve Albini para gravar o álbum. Subsequentes pedidos da gravadora para nova mixagem das faixas, que estavam pesadas demais, adicionam um vilão sem alma à trama, melhorando a narrativa ainda mais.
Albini se recusou a mexer no material já entregue e o disco saiu com pelo menos duas músicas —os singles "Heart-Shaped Box" e "All Apologies"— remixadas por outro produtor, Scott Litt (dos discos "Out of Time" e "Automatic for the People", ambos do R.E.M.).
Na edição de luxo de 20 anos de "In Utero" (abaixo), as mixagens originais de Albini apareceram: são as faixas 19 e 20.
A maior diferença a ser notada é no rápido solo de guitarra aos 2 minutos e 44 segundos de "Heart-Shaped Box". No original, havia um efeito estranho que o baixista Krist Novoselic descreveu como "cintilante" e "muito irritante", mas Cobain quis deixar assim. Na versão lançada em 1993, todavia, não há o efeito.
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A mixagem original também trazia apenas uma voz de Cobain. Na de Litt, há mais vozes (do próprio Kurt). No caso de "All Apologies", o violoncelo ficou mais acentuado na versão oficial e os pratos da bateria têm "mais brilho", conta Gaar.
O livro do disco é precioso ao dar dicas para entendermos as diferenças dessas versões —pois 99,9% dos mortais não as captariam sem ajuda.
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