CRÍTICA
Octavio Paz é lúcido ao expor o presente em textos inéditos
Hector Garcia /Reuters | ||
Octavio Paz (1914-1998) e a mulher, Marie-José, na Cidade do México |
A BUSCA DO PRESENTE E OUTROS ENSAIOS (muito bom)
AUTOR Octavio Paz
TRADUÇÃO Eduardo Jardim
EDITORA Bazar do Tempo
QUANTO R$ 40 (104 págs.)
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"A Busca do Presente e Outros Ensaios" reúne três ensaios até então inéditos no Brasil do escritor mexicano Octavio Paz (1914-1998), traduzidos e apresentados por Eduardo Jardim. Em formato de bolso, o livro marca a estreia da coleção Ensaios Contemporâneos.
Escritos em épocas diversas, o primeiro quando o autor ainda não chegara aos 30 anos e o último no fim da vida, os três textos têm como fio comum, segundo diz Jardim na nota introdutória, "a dialética da solidão -o assunto central de sua obra como poeta e como ensaísta".
Outro recorte possível é o tema da poesia como antídoto contra a desumanização dos "nascidos em uma sociedade que nos faz naturalmente artificiais e que nos despoja de nossa substância humana para nos converter em mercadorias", como lemos no primeiro ensaio.
Nesse sentido, o livro desenha uma evolução que é ao mesmo tempo de sofisticação do pensamento e de um progressivo -mas não completo -desencanto do autor de
"O Labirinto da Solidão".
"Poesia de solidão e poesia de comunhão" é uma conferência de 1943 sobre a tensão entre aqueles que Paz considera os dois movimentos opostos da poesia lírica, a comunhão com o mundo e o reconhecimento da incomunicabilidade, representados pelos poetas espanhóis São João da Cruz e Quevedo, respectivamente.
Em "Estrela de três pontas: o Surrealismo", conferência de 1954, o ensaísta tece um elogio apaixonado ao movimento estético liderado por André Breton, influência marcante em sua poesia e seu pensamento.
Fruto da convivência próxima do autor com os expoentes da vanguarda francesa entre 1945 e 1951, quando serviu como diplomata em Paris, é um texto que não envelheceu bem em sua crença militante na potência
revolucionária do movimento.
O ensaio mais importante e atual do volume é o que lhe dá título. Discurso proferido por Paz ao receber o prêmio Nobel de Literatura em 1990, "A busca do presente" pode ser lido como uma súmula das inquietações políticas e estéticas de um dos maiores intelectuais latino-americanos do século 20.
O balanço é sombrio. Aquele processo de desumanização mencionado no primeiro ensaio se agravou. Está na mesa a carta da extinção da espécie, da degradação acelerada das condições de vida: "A infestação não apenas infesta o ar, os rios e os bosques, como também as almas". Há momentos em que Paz parece prever os retrocessos políticos e sociais do século 21, que não chegaria a conhecer.
Contra o colapso do futuro, o ensaísta se agarra com coerência admirável à experiência poética como tábua de salvação. "Que sabemos do presente? Nada ou quase nada. Mas os poetas sabem algo: o presente é o manancial das presenças."
Livraria da Folha
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