Mortes: Especialista em Fernando Pessoa, poeta era único e múltiplo
Sergio Andrade/Folhapress | ||
O escritor Carlos Felipe Moisés posa em foto sem data, em São Paulo |
Morto na última sexta (18), Carlos Felipe Moisés (1942-2017) era uma linha. Professor de literatura na USP, tradutor, crítico literário, ensaísta, poeta e ficcionista.
Uma linha com várias pontas. Um fio que unia, a um só tempo, a escrita em suas mais variadas vertentes. Uma voz que levou, a diversos cantos do Brasil e do mundo, uma criação literária de alto nível e que alavancou relevantes discussões sobre a leitura e sobre a arte da escrita.
Carlos Felipe foi uma linha alinhada a uma escrita e a um ensino clássicos, alinhado em ternos e em trajes em que mantinha o tom professoral e sereno tanto em conversas em bares como em salas de aula de universidades.
Carlos foi uma linha universitária, dando aula na USP e na PUC, em São Paulo, além da Universidade Federal da Paraíba. Foi uma linha de algodão, navegando suavemente em brancas nuvens como professor na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e na Universidade do Novo México, nos Estados Unidos. Foi uma linha de finos fios de fibras de linho, em linhas torcidas de uma blusa que agasalhou a literatura lusa e a brasileira.
Um dos maiores especialistas em Fernando Pessoa, Carlos Felipe era um; era único; era múltiplo. Um dos maiores especialistas em Vinícius de Moraes, Carlos Felipe era soneto; era verso livre; era prosa.
Proseava e poetava em páginas de livros com títulos escritos em linhas atadas por um literato que alinhava o onírico e o empírico: "Poesia & Utopia", "Poesia & Realidade", "Conversa com Fernando Pessoa", "Literatura Pra Quê?", "Noite Nula", "Histórias Mutiladas", "A Multiplicação do Real". Carlos Felipe sonhava a literatura; Carlos Felipe realizava a literatura.
Conversa com Fernando Pessoa |
Carlos Felipe Moisés |
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Carlos Felipe Moisés era uma linha generosa e dinâmica. Um fio elétrico que se propagava pelo espaço em linhas tortas que disparavam afirmações certeiras como: "Todo poeta aprende poesia com outro poeta".
Ler Carlos Felipe é aprender poesia. Na linha de frente da página nossa de cada dia, é uma meada de linhas enoveladas em uma novela cujo capítulo final foi escrito há poucas horas, mas com minutos cronometrados em uma linha fina de cordas e cordéis que têm fôlego para alimentar, em sonhos reais, algumas décadas pela frente.
ANDERSON BORGES COSTA é professor, escritor e crítico literário. Autor do romance 'Rua Direita" (Chiado) e do livro de contos "O Livro que não Escrevi" (Giosrti).
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