Clichês são bem explorados em crônica da América 'white trash'
PATTI CAKE$ (muito bom)
DIREÇÃO Geremy Jasper
ELENCO Danielle McDonald, Bridget Everett e Cathy Moriarty
PRODUÇÃO EUA, 2017, 16 anos
QUANDO estreia nesta quinta (30)
Veja salas e horários de exibição
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É mais que comum ler críticos e opinadores desqualificarem um filme com o argumento de que é amontoado de clichês. "Patti Cake$" poderia facilmente ser jogado nessa vala se não fosse o modo como brinca com esses artifícios indispensáveis à produção cinematográfica.
Se os estereótipos podem ser lidos de modo negativo, quando parecem repetidos e sem valor, também podem ser positivos, quando ajudam a rever nossos preconceitos.
Ainda podem recuperar vitalidade, quando se injeta neles uma energia característica de cineasta estreante, como no caso de Geremy Jasper. Por isso, "Patti Cake$" impõe suas diferenças a partir de um conjunto de situações mil e tantas vezes vista.
No esqueleto, o filme é, sim, sobre a garota que sonha em se tornar estrela, mas só encontra barreiras, até surgir a grande oportunidade de mostrar seu talento.
Além disso, o percurso de Patricia, jovem branca e obesa, que quer acontecer no mundo do rap, revela também a lógica da exclusão, mostrando como as identidades de grupo reforçam outras formas de preconceito.
O filme é também uma crônica da América "white trash", grupo que vive à margem, cumprindo trabalhos esporádicos e endividado até o pescoço. Foi nesse fundo do poço social que o discurso de Trump mais ecoou, liberando uma onda forte de ressentimentos.
Jasper adota duas estratégias para captar as dimensões subjetivas e coletivas dessa história. Toma emprestado um tipo de formato de "reality show", como a aparência descuidada das imagens e a montagem irregular para simular uma urgência, que, se não é original, funciona.
E copia da estética hip-hop o visual saturado, composto de sobreposições e colagens, além de oferecer os elementos musicais que dão um vigor pop feito de ritmos e batidas.
Combinados, os recursos afastam o filme do chantagismo da miséria, como o de "Preciosa: Uma História de Esperança" (2009), com o qual vem sendo comparado.
Além da musicalidade, que dá uma força afirmativa e distingue o drama de Patricia de sua homóloga em termos de volume corporal, a interpretação da australiana Danielle Macdonald oferece a "Patty Cake$" outro tipo de sentimento. Aqui, tudo conspira contra, mas descobrir que há alegria e prazeres ajuda a enxergar além da dor.
Assista ao trailer de "Patti Cake$"
Assista ao trailer de "Patti Cake$"
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