Com Elisa Lucinda e Ellen Oléria, musical celebra amor entre mulheres

Crédito: Lenise Pinheiro/Folhapress De Leve, obra do artista plástico Barrão
Renata Celidonio (esq.), Elisa Lucinda (centro), Tainá Baldez, Luiza Guimarães e Gabriela Correa

MARIA LUÍSA BARSANELLI
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Uma analogia com "A Quadrilha", poema de Carlos Drummond de Andrade, poderia servir em "L, o Musical". No caso, era Anne que amava Ester que amava Rute que amava Simone. Nada de Joãos, Raimundos ou Joaquins.

A comédia musical do coletivo Criaturas Alaranjadas Núcleo de Criação Continuada estreia em São Paulo neste sábado (6) após temporadas em Brasília e no Rio. Trata-se de um retrato do amor entre mulheres e de um resgate do cancioneiro da MPB que se relaciona com o universo lésbico.

Para o repertório, o diretor e dramaturgo Sérgio Maggio pesquisou, em comunidades virtuais, músicas de afeto dessas mulheres. Chegou a 22 canções, famosas nas vozes de Ana Carolina ("Pra Rua me Levar"), Cássia Eller ("Gatas Extraordinárias"), Marina Lima ("Prestes a Voar") e Zélia Duncan ("Não Vá Ainda").

Eles costuram a história da autora novelas Ester Rios (Elisa Lucinda), que, em meio ao sucesso de seu folhetim, se lembra do grande amor de sua vida, Rute (Ellen Oléria). E dali tecem-se outras tramas.

Crédito: Lenise Pinheiro/Folhapress De Leve, obra do artista plástico Barrão
Ellen Oléria (esq.) e Gabriela Correa em sessão de 'L, o Musical' no CCBB do Rio, em dezembro

Apesar do tom de comédia, a peça transita por temas duros, do preconceito contra homossexuais ao chamado estupro corretivo –que tem o objetivo de "ensinar" mulheres gays a gostarem de homens.

Há ainda um personagem transgênero, que debate a dificuldade, inclusive entre a comunidade lésbica, em aceitar a mudança de sexo.

"A gente dá nome às coisas: é lesbofobia, é preconceito. [A dramaturgia] é meio catequese às vezes, mas carece que seja, precisamos dessa discussão", comenta a atriz Luiza Guimarães.

INVISIBILIDADE

"L" tem feito sucesso entre o público lésbico, que chega a voltar ao teatro algumas vezes, e entre famílias de garotas gays, pais que buscam entender o universo das filhas. Houve até pedidos de namoro e casamento entre espectadoras, logo ao fim das sessões.

Isso porque, segundo elenco e diretor, a montagem se volta a um nicho ainda pouco representado nas artes.

"O universo lésbico é meio ausente do campo ficcional. É um imaginário muito distante do que temos nos nossos cânones", afirma Oléria, cantora que se tornou uma das vozes da comunidade lésbica. "Geralmente, não se aceita a ausência do homem nas relações", completa Maggio.

Por essa "invisibilidade ficcional", o diretor inseriu no texto alusões a um trabalho que já transita nesse universo: "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant", peça de Rainer Werner Fassbinder, depois adaptada por ele ao cinema.

A obra do alemão, sobre uma figurinista e sua paixão não correspondida por uma jovem, aparece aqui em frases (como "a vida começa aos 23"), ações, no elenco todo feminino –inclusive a banda ao fundo da cena– e em referências no cenário (o palco coberto de penugem branca, os manequins despidos, os quadros clássicos retratando nus).

A equipe de "L" também tem feito debates após sessões do espetáculo (em São Paulo, a conversa está marcada para 22 de janeiro). O assunto é não apenas a montagem mas também a representação da comunidade LGBT.

"É interessante que não vimos um discurso de ódio como se vê nos debates na internet", diz Maggio. "O afeto é o condutor das discussões."

A jornalista MARIA LUÍSA BARSANELLI viajou a convite da produção do musical.

L, O MUSICAL
QUANDO sex., sáb. e seg., às 20h, dom., às 18h; de 6/1 a 26/2
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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