Canal Brasil exibe comovente apresentação de Luiz Melodia

Crédito: Ana Paula Amorim/Divulgação Luiz Melodia em show gravado para o DVD "Zerima", no Teatro UFF, no Rio, em 29 de junho de 2016
Luiz Melodia apresenta sua última turnê no teatro da Universidade Federal Fluminense

THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

ZERIMA - 40 ANOS DE LUIZ MELODIA (ótimo) * * * * *
ONDE Canal Brasil
QUANDO sábado (6), às 18h

Luiz Melodia completaria 67 anos no domingo (7). Na véspera, há uma oportunidade de celebrar a reconstrução do samba que o artista inseriu na MPB. O Canal Brasil exibe um show da última turnê do cantor, com repertório composto de músicas de seu álbum derradeiro, "Zerima" (2014), e alguns clássicos.

Ele morreu no dia 4 de agosto do ano passado, sofrendo de um tipo raro de câncer na medula óssea. O especial registra seu show no teatro da Universidade Federal Fluminense, em 29 de junho de 2016. Vivaz, sorridente, com a voz grave colocada de modo firme e exibindo os habituais passinhos de samba durante as canções mais agitadas, Melodia aparece de bem com o mundo.

Colocadas lado a lado no palco, as canções mais recentes convivem sem sobressaltos com hinos magistrais que conquistaram o público nos anos 1970, quando ele apareceu em festivais. "Zerima", uma balada pungente dedicada à irmã, soa tão forte quando "Pérola Negra", que Gal Costa gravou em 1972 e serviu como cartão de visitas de mais um grande compositor.

Criado no morro do Estácio, imerso na atmosfera do samba, Melodia quis se dedicar ao gênero. Mas as antenas do músico não desprezaram outros sons que fizeram sua cabeça na adolescência, como o jazz e o soul americanos e a jovem guarda brasileira.

Essa mistura fina ergueu esse jeito "melodiano" de escrever músicas que alternam corações partidos, romances doces, exaltações ao samba secular e crítica social. Pena que a miopia do mercado fonográfico tenha fechado portas para ele. É triste constatar que "Zerima" tenha sido gravado em 2014, simplesmente após um hiato de 13 anos sem um disco de material inédito.

O show no teatro da UFF exibe Melodia com o despojamento costumeiro. Num palco sem cenário, apenas sua figura magra e elegante no centro, tendo em volta uma banda afinada. Os arranjos, equilibrados entre alguma fidelidade aos originais e uma sempre destacada vontade de subversão, são valorizados pelo belo uso dos metais.

A noite é aberta com três músicas de "Zerima": a autoral e romântica "Cheia de Graça", a versão de "Nova Era", de Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho, e "Vou com Você", samba cativante. Aí Melodia começa a abrir o baú com "Congênito", joia de seu segundo álbum, "Maravilhas Contemporâneas" (1976), com os sábios versos iniciais "Se a gente falasse menos/ talvez compreendesse mais".

Em seguida há um retorno ao repertório do último disco, com "Cura", "Zerima" e "Papai do Céu", um reggae festivo. "Vamos plantar mais amor/ se não der certo muda/ e na estante um buda", brinca a letra. Mahal Reis, filho de Melodia, sobe ao palco para cantar seu rap homenagem a Dorival Caymmi inserido na versão do pai para "Maracangalha".

Melodia inicia uma imersão no repertório dos anos 1970 com "Dores de Amores" e "Pérola Negra". Emenda então "Parei Olhei", música de Rossini Pinto que foi sucesso nacional com Roberto Carlos na jovem guarda.

Para encerrar o show, com a plateia extasiada, outra incursão setentista: "Vale Quanto Pesa", "Ébano", "Estácio Holy Estácio" e "Magrelinha". O tímido Melodia recebe os aplausos com os braços abertos e uma expressão serena de felicidade. Um show belíssimo e, assistido depois de sua morte, comovente.

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