Qual minoria você vestiria no tapete vermelho?

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TATI BERNARDI
COLUNISTA DA FOLHA

Queria ouvir a opinião de vocês, queridas leitoras deste jornal. Principalmente das mais ativistas e ávidas leitoras do feminismo. Grandes chances de eu estar errada e ser mais uma ignorância minha. Este é um texto para uma boa conversa, e não para mais uma agressiva discussão. Cansei delas, tô velha pra elas. Ando sensível e não quero apanhar grávida na rua, ok?

Escrevo na madrugada da segunda, o Globo de Ouro acabou de acabar e me deixou aqui entre a insônia e uma pequena depressão.

Achei o discurso da Oprah, que não canso de admirar e acompanhar, extremamente importante e transformador.

Uma mulher forte, foda, inspiradora. Mas fiquei constrangida com aquelas atrizes todas desfilando com latinas, negras, orientais, lésbicas e gordinhas como se fossem a bolsa da moda. Tipo "pegue sua minoria e venha brilhar no tapete vermelho".

A Meryl ficava alisando a sua asiática, acariciando, beijando, com carinha de "por um mundo melhor" e aquilo foi me dando um constrangimento louco. A pergunta "o que você está usando?", que recentemente (e corretamente) caiu em desuso por diminuir a importância de uma atriz concorrendo a um prêmio por seu trabalho estava lá, camuflada em boas intenções, mas estava: "E esse casaco, é Prada?". "Não, é uma negra militante!"

Claro que todas aquelas mulheres incríveis e de mãos dadas com estrelas de Hollywood (vão me xingar por não colocar os nomes, por reforçar alcunhas que podem soar preconceituosas como "a gordinha" ou "a latina", mas, infelizmente, é assim que elas serão momentaneamente reconhecidas quando dispostas de forma tão superficial ao lado de celebridades) têm algo superurgente e fundamental a dizer e já fazem um trabalho maravilhoso contra as muitas formas de violência contra nós, mas... será que desfilar coladinha com uma "amiga de momento", feito colegiais inseguras na hora do recreio, carrega a força necessária que tem, por exemplo, o discurso de Oprah?

Acho que muito precisa ser feito contra o machismo e seus abusos, mas discordo de dizer que "tudo é válido" contra eles, pois periga ficar bobo e vazio e ter efeito contrário.

A quantidade de diamantes e esmeraldas e vestidos caríssimos (e a cara de famosérrima deleitosa misteriosa que a mina de só 13 anos do "Stranger Things" fez para as câmeras) somados à sororidade fake de algumas adulações em bochechas menos maquiadas me lembraram o tempo todo palavras como showbiz, atuação, dinheiro, likes, propaganda... e pouco me aproximaram da emoção que senti ao ver o espetacular "Big Little Lies" ou, de novo, ao ouvir o discurso da deusa Oprah.

Ao usar preto –que é sabidamente a cor mais chique, elegante e embelezadora–, do que essas atrizes lindas e milionárias abriram mão pra dar um recado?

Terminei a noite achando que poder é ter o Justin Timberlake olhando pra você como ele olha para Jessica Biel.

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