Em meio a caminhão de hits, Jorge Vercillo faz guerrilha pela boa música

Crédito: Divulgação Jorge Vercillo, que canta em São Paulo na sexta (12) e no sábado (13)
Jorge Vercillo, que canta em São Paulo na sexta (12) e no sábado (13)

THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

Jorge Vercillo sobe ao palco do Teatro J. Safra nesta sexta (12), repetindo o show na noite seguinte, em uma cruzada que vai além de mostrar seu caminhão de hits e as canções do álbum mais recente, "Viver É Arte". Para ele, cada show é uma batalha de uma guerra maior.

"Acho que a grande questão hoje é a música de qualidade versus a música medíocre", diz Vercillo à Folha. "No Brasil, e no mundo, quanto mais rica a sua música, mais você é punido. Se sua música é pobre, você é agraciado. Os valores se invertem!"

O cantor carioca afirma que, com a música que faz, é grato pela sorte de mostrá-la. "Tive em 2017 um espaço na mídia que eu não acreditei." Vercillo sente que seu desempenho é incomum no cenário atual. "Sem sobra de dúvida, a canção de um pouco mais de qualidade, de engenho melódico e harmônico, e de bom gosto poético, com um universo simbólico mais aprofundado, essa música perdeu muito espaço."

Como em inúmeras vezes, ele tem canção em novela da Globo. "Vida É Arte", balada que dá nome a seu álbum mais recente, está em "Tempo de Amar". Desse disco, ele canta também no show mais dois hits, "Talismã Sem Par" e "Acontecência".

A turnê leva o nome "A Experiência", porque Vercillo a concebeu com algo que trouxesse o público para perto, até para subir no palco e interagir com ele. E acredita que cada cidade é diferente, mudando o repertório pelas preferências regionais a seus hits. "Sensível Demais", por exemplo, é obrigatória em São Paulo. Já "Avesso", que não tocou muito no eixo Rio-SP, é hit no Nordeste.

Vercillo quer falar sobre os shows que faz pelo interior do Brasil, muitos em praças públicas. "Ali não sou apenas o Jorge Vercillo, estou representando Caetano, Djavan, assim como eles me representam quando vão lá, para concorrer com um sistema de música mediocrizante."

Ele se surpreende com as prefeituras que promovem o que chama de "funk de bandido, com letras porcas".

"A batida pode às vezes ser maravilhosa, mas a maioria das letras é porca. Promovem também um sertanejo da pior qualidade. Claro que no meio disso a gente ouve algumas coisas boas de sertanejo. Você pode fazer música boa ou ruim de qualquer estilo."

Tocar em praça no interior, até recebendo cachê menor, é algo que se dispõe a fazer como "guerrilha", para levar uma música melhor às pessoas que se sentem presas numa cultura de idiotização.

"Para o governo e os poderosos, quanto mais burra a música melhor para controlar um público anestesiado, que ouve porcaria e enche a cara."

Vercillo acredita que uma culpa católica carregada por várias gerações está saindo do inconsciente das pessoas e criando um movimento de se falar mais de sexo. E pede um pouco mais de bom gosto ao cair nessa tema.

"A letra é 'desce a bunda no chão' e só isso. Aí o Lulu Santos disse que a música brasileira está na fase anal. Eu vou complementar dizendo que não só a música, acho que a consciência brasileira está na fase anal."

"O que me assusta é a passividade do povo, a classe média abraçar músicas tão ruins. Não falo do estilo. Acho que dentro de funk, sertanejo e sofrência tem música interessante. Acho, por exemplo, que a música do Pabllo Vittar não é tão pobre assim. Grava coisas apelativas, mas canta bem, acho que poderá depois fazer música melhor."

JORGE VERCILLO
QUANDO sexta (12), às 21h30, e sábado (13), às 21h
ONDE Teatro J. Safra, r. Josef Kryss, 318, tel. (11) 2626-0243
QUANTO de R$ 80 a R$ 150

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