Série reconstitui assassinato do estilista italiano Gianni Versace

Crédito: Divulgação Ricky Martin e Édgar Ramírez em cena de "American Crime Stoty: O Assassinato de Gianni Versace"
Ricky Martin e Édgar Ramírez em cena de "American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace"

GUSTAVO FIORATTI
DE SÃO PAULO

Não faltam personagens marcantes em "O Assassinato de Gianni Versace", segunda temporada da série "American Crime Story", que o canal FX começa a exibir nesta quinta (18). Mas é bem possível que o espectador se surpreenda com o holofote voltado a um deles: o assassino.

Do estilista italiano Gianni Versace, morto em 1997 aos 50, com dois tiros, temos farto material publicado em revistas e livros. Ele foi o cara que conquistou o mundo da moda com doses de barroquismo, tecidos brilhantes e estampados e as referências à antiguidade clássica. Édgar Ramírez é quem o interpreta na série.

Donatella, a irmã loira que levou a marca Versace adiante após o crime, é interpretada por Penélope Cruz. E o viúvo de Versace, o modelo Antonio D'Amico, ganha, de Ricky Martin, o rosto e o corpo malhado -fãs, preparem-se para vê-lo nu e bem à vontade, ao menos até a hora do tiro.

O foco da série, contudo, não é exatamente um deles. A temporada se dedica a vasculhar a vida do assassino de Versace, Andrew Cunanan (Darren Criss), que se matou aos 27, logo após cometer este quinto e último crime.

FICÇÃO X REALIDADE

Na temporada anterior, a série retratou o "julgamento do século", protagonizado pelo jogador de futebol OJ Simpson, acusado de ter matado sua mulher e um amante.

A obra televisiva abocanhou nove prêmios no Emmy.

Em suas duas temporadas, a série embarca em uma corrida do setor audiovisual: a busca por histórias de crimes baseadas em fatos reais.

"Mindhunter", "Alias Grace", "Aquarius" e "Law & Order" são outros títulos que abraçaram o resgate de velhos conhecidos de páginas policiais.

Aproximar-se da mente de criminosos (na tentativa quiçá vã de entendê-los) tem sido o leitmotiv nessa onda de produtos da teledramaturgia, e "O Assassinato de Gianni Versace" não escapa ao contexto de uma tendência.
Mais ainda. As comparações entre retratos ficcionais e o que se apurou dos fatos nos quais foram baseados também colocaram em evidência uma espécie de telhado de vidro do gênero.

O próprio "O Assassinato de Gianni Versace" já sofreu um par de alfinetadas daqueles que se relacionaram com o estilista. O viúvo de Versace, por exemplo, disse à imprensa europeia que não abraçou o corpo ensanguentado de Versace, como mostrado nos capítulos iniciais.

Depois ainda veio uma nota oficial da Versace, a companhia herdada pelos familiares. "Como a Versace não autorizou o livro em que parcialmente se baseia e não tomou parte no roteiro, a série de TV deve ser considerada um trabalho de ficção."

O livro a que se refere é "Vulgar Favor", da jornalista americana Maureen Orth. Publicado em 1999, trata-se de um trabalho minucioso que coloca em foco a complexa vida do assassino, com depoimentos que resgatam inclusive dados sobre sua infância. Não há edição brasileira.

Quando a série de TV começa, Cunanan já cometeu ao menos quatro assassinatos e está na iminência de cometer o quinto. O FBI está no encalço dele e o tornou um dos criminosos mais procurados dos Estados Unidos.
Compare fotos na internet de Cunanan, o assassino, com a caracterização por Criss. A diferença é um leve traço oriental do assassino. Foi herdado do pai, de família filipina.

Cunanan não era um homem bruto e antissocial, e sua qualidade mais estranha talvez fosse a propensão a contar vantagens mentirosas sobre si próprio, como é sublinhado em "Vulgar Favor".

Ele não teve uma infância difícil, pelo contrário. Foi um menino mimado, cuja adolescência atravessou uma fase de abundância financeira do pai. Na escola era considerado um estudante prodigioso, tinha amigos e relações que Orth tece como afetuosas.

Sua história é marcada por uma reviravolta, contudo. Na verdade duas, ambas na entrada para a vida adulta, aos 19: a revelação de sua homossexualidade a familiares, o comportamento perdulário do pai e seu subsequente empobrecimento e afastamento.

Cunanan passa a se relacionar com homens mais velhos e ricos e a gastar sem freios em clubes e bares gays. O livro atravessa um cenário de liberação sexual em conflito com as inúmeras mortes causadas pela epidemia da Aids.

Há farto material sobre uso de drogas na vida noturna, com destaque para o aparecimento da metanfetamina e à cultura do uso de cocaína. Além de usuário, Cunanan torna-se também traficante.

O desenvolvimento da psicose nele é analisado no livro sob esta combinação: sujeito ambicioso, deslumbrado com ricos, frágil diante da rejeição. O detalhe é que admirou uma de suas vítimas.

NA TV
American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace
Quando qui., às 23h, na FX

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