Mesmo sem inovar, filme traz belas reflexões sobre a saudade

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LÚCIA MONTEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

SAUDADE (muito bom) * * * *
DIREÇÃO Paulo Caldas
PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos
QUANDO estreia nesta quinta (18)
Veja salas e horários de exibição

Escrever sobre um (bom) filme é uma forma de prolongar sua experiência e aplacar o vazio que surge com os créditos finais. Preciosas, as falas no documentário "Saudade" deixam o espectador com vontade de ouvi-las de novo.

Vinte anos após estrear no premiado "Baile Perfumado" (1997), Paulo Caldas investiga origens e acepções do sentimento que, diz-se, é tão próprio à língua portuguesa. A potente trilha sonora é ponto comum às produções.

No Brasil, em Portugal, em Angola e na Alemanha, artistas plásticos, cineastas, dramaturgos, filósofos, músicos e escritores descrevem experiências íntimas, históricas e políticas ligadas à palavra.

Os depoimentos –no pouco inovador formato de "cabeças falantes"– são entremeados por momentos de puro lirismo, como trechos de peças, ensaios de dança, paisagens misteriosas etc.

Na abertura, o astronauta Marcos Pontes narra como viu o mundo desprovido da própria presença. Como descrever com mais intensidade o estar apartado do que se ama?

Veja o trailer de 'Saudade'

Contrariando a tese da origem latina da palavra, o escritor amazonense Milton Hatoum aposta no parentesco com o árabe, em que "saudah", a cor negra, remete à bile, associada à melancolia.

A vontade de voltar ao Paraíso sustenta a hipótese do historiador Durval Muniz. Não é posição consensual: o filósofo português Eduardo Lourenço ressalta a ligação seminal com a Península Ibérica.

É pena que as críticas ao culto à saudade na mitologia portuguesa não sejam contextualizadas. De fato, o sentimento entrava o momento político atual, em que é preciso não só elaborar o passado colonial e a herança do salazarismo, mas também assumir crédito pela violência cometida.

Fruto de um projeto de série televisiva, o filme condensa em 77 minutos 42 entrevistas, o que compromete a profundidade de algumas falas, deixando-nos saudosos do que poderíamos ter ouvido.

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