Weinstein é 'passado', diz Robert Redford na abertura de Sundance

Crédito: Angela Weiss/AFP O ator e diretor Robert Redford na abertura do Festival Sundance
O ator e diretor Robert Redford na abertura do Festival Sundance

FERNANDO GROSTEIN ANDRADE
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE PARK CITY (EUA)
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

Harvey Weinstein é "passado" e "não vai parar o show", disse o ator e diretor Robert Redford, ao abrir Festival Sundance na tarde de quinta (18).

Os organizadores bem que tentaram falar de outro assunto, abrindo a coletiva com uma retrospectiva da missão de Sundance: ampliar a representatividade da indústria audiovisual para além de Hollywood.

Mas mais uma vez a voz daqueles sem voz foram caladas pelo assunto dominante na indústria. A entrevista coletiva que deu início à mostra cinematográfica americana foi marcada por questionamentos sobre o produtor Harvey Weisten, fulminado por denúncias de assédio sexual.

Segundo Redford, Harvey faz parte das pessoas que vêm ao festival em seu próprio benefício e para comprar filmes mais baratos.

"O papel dos homens agora é ouvir e deixar que as vozes das mulheres sejam escutadas", continuou Redford, criador do instituto que organiza o festival. Uma das mais importantes vitrines do cinema independente, Sundance vai até o próximo dia 28 em Park City, Salt Lake City e adjacências.

Neste ano, a organização do festival estima que mais de 35% das produções da programação sejam dirigidas por mulheres e que 32% tenham negros como diretores. Ao todo, contará com 110 longas de 29 países, incluindo 47 de diretores iniciantes, pinçados de um total de 3.901 títulos submetidos.

Crédito: Fernando Siqueira O ator e diretor Robert Redford na abertura do Festival Sundance
O ator e diretor Robert Redford na abertura do Festival Sundance

Presentes na entrevista coletiva, os jornalistas pressionaram Redford insistentemente a falar de Weinstein. Isso porque o produtor era vinculado ao 'boom' da produção independente americana dos anos 1990 e, por isso, frequentou o festival.

Tanto Keri Putnam, diretora executiva do Instituto Sundance, quanto John Cooper, que dirige o festival, disseram-se "enojados" com as acusações contra Weinstein. Eles frisaram que a organização da mostra nunca soube de suas atitudes. Nesta edição, além de um código de conduta endurecido, haverá uma "hotline" –uma linha telefônica para denunciar abusos.

''BRASIL FOI BEM''

Perguntados pela Folha, os membros da organização comentaram a presença brasileira neste ano. "O Brasil foi muito bem", disse Cooper. O Brasil está representado em três filmes do panorama mundial de Sundance.

"Benzinho", de Gustavo Pizzi, é o título de abertura da mostra global desta edição. Traz Karine Telles e Otávio Müller no papel de um casal que precisa se despedir do filho (Konstantino Sarris), que parte para ser jogador de handebol na Alemanha.

Já Aly Muritiba, de "Para Minha Amada Morta", exibirá em Sundance seu novo "Ferrugem", que trata de linchamento virtual a partir da história de uma adolescente que tem suas fotos íntimas vazadas.

O Brasil também está representado por "The Cleaners", uma coprodução com a Alemanha que trata de informações no mundo digital.

E o ator Rodrigo Santoro estrela o filme canadense e cubano "Un Traductor", sobre um professor de literatura russa em Havana que trabalha como tradutor junto aos médicos cubanos e os familiares das vitimas de Chernobyl.

ECOS DE TRUMP

O festival também incorporou à sua programação algumas atrações em realidade virtual, a exemplo do que fizeram as mostras de Cannes e de Veneza no ano passado, e de "story telling" em episódios.

A reportagem perguntou se o cinema era capaz de mudar o mundo de fato e quais os filmes da programação que tinham esta vocação.

John Cooper respondeu que às vezes um curta-metragem consegue ter mais força que um longa-metragem de três horas e citou "A Night at the Garden", que retrata o episodio em que 22 mil americanos reunidos na Madison Square Garden se juntaram em apoio ao nazismo meses antes da Segunda Guerra Mundial.

Além desse, ele mencionou o documentário "Dark Money" sobre o financiamento de campanhas eleitorais.

O tema foi brecha para que os organizadores comentassem sobre "fake news", assunto abordado em "Our New President", que remonta a eleição de Trump por meio de peças de propaganda russa.

"O papel da arte na sociedade é retratar a sociedade e criticar essa mesma sociedade", disse Redford.

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