Descrição de chapéu música

Sem destino, acervo de Adoniran Barbosa está oculto na Galeria do Rock

NATHALIA DURVAL
DE SÃO PAULO

A Galeria do Rock, no centro de São Paulo, pode parecer um lugar incomum para um sambista. Mas o mesmo local que abriga lojas de camisetas de bandas e estúdios de tatuagem aloja mais de mil objetos que pertenceram a Adoniran Barbosa (1910-1982).

O acervo, catalogado em parte, está guardado em caixas empilhadas no quinto andar do prédio desde outubro, longe das condições ideais de conservação.

"São objetos que precisam de condições, alguns de restauro, como um carrossel e um trem, que estão enferrujando", diz Luciana Arruda, advogada que representa a herdeira do compositor, sua filha, Maria Helena Rubinato.

Rubinato tentou vender o arquivo para a USP em 2010, por mais de R$ 600 mil –mas a universidade à época não tinha recursos para a aquisição. No momento, há negociações com instituições públicas e privadas para receber o material.

Entre os objetos, estão os chapéus, gravatas borboletas e óculos usados pelo músico. Há ainda instrumentos musicais, fotos, discos, partituras, roteiros de radionovelas e jornais de época.

Uma das relíquias é o anel que Adoniran fez com a corda de seu cavaquinho e depois transformou na música "Prova de Carinho". ("Com a corda mi / Do meu cavaquinho / Fiz uma aliança pra ela / Prova de carinho").

Há ainda um trem das onze, construído com madeira e ferro pelo artista."Era o grande xodó dele", diz Pedro Serrano, cineasta e um dos responsáveis pelo acervo.

Os objetos foram guardados por Mathilde, mulher de Adoniran, nos anos em que viveram juntos. "Ela era a maior fã dele", diz o cineasta, que lança neste ano o documentário "Meu Nome É João Rubinato", sobre o sambista.

Quando Mathilde morreu, em 1985, o acervo ficou em posse da única filha do casal. Com o desejo de torná-lo público e de criar o Museu Adoniran Barbosa, ela doou o material para a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.

SEM LAR

O acervo vagou pelos cofres do antigo Banco de São Paulo e pelo teatro Sérgio Cardoso, até chegar ao MIS, em 2006. Parecia que tinha encontrado um lar, "mas o acervo foi totalmente diluído lá".

"A parte de som foi para a área de som, a de cinema para de cinema", diz Arruda.

Alguns objetos foram expostos em uma sala no térreo do museu até sua reforma, em 2007. "O acervo estava no meio do pó das obras. Os funcionários não tinham noção da importância dos objetos que estavam manuseando", afirma a advogada.

Na época, João Sayad, então secretário da Cultura, afirmou que o acervo do MIS "estava recebendo peças que não faziam sentido" e que algumas "acabam ficando só por valor sentimental."

O acervo foi retirado do local às pressas, e a doação, revogada. Sem destino, passou por um sítio em Boituva e por um galpão industrial em Salto, ambas no interior de São Paulo, em espaços cedidos por amigos de Rubinato.

Foi quando Toninho, síndico da Galeria do Rock, ofereceu, de forma temporária, o espaço para guardar o acervo.

Segundo a advogada da herdeira, a falta de verba, o desinteresse e o desconhecimento da importância do acervo foram motivos para ele ter sido desprezado até agora.

Um grupo de pessoas interessadas em resgatar a memória do ícone do samba paulistano, entre eles Serrano e Arruda, estão em busca de patrocínio e instituições para expor o material. Segundo o cineasta, há negociações com o Sesc para criar mostras itinerantes com os objetos e shows em homenagem ao artista.

A ideia, em seguida, é transformar o acervo em uma exposição permanente em algum espaço público. "A cidade precisa conhecer sua história por meio do olhar de um artista cuja música é considerada hino da cidade de São Paulo", diz Arruda.

ADONIRANDO

Como parte do projeto Ano Adoniran, que pretende desenvolver eventos culturais, será realizado nesta quarta (31), no Theatro Municipal, um show em homenagem ao compositor. O evento foi idealizado pelo comentarista de futebol Walter Casagrande.

Artistas como Paulo Miklos, Baby do Brasil, Luíza Possi e os Demônios da Garoa interpretam clássicos de Adoniran, como "Saudosa Maloca" e "Trem das Onze".

ADONIRANDO
QUANDO qua. (31), às 20h
ONDE Theatro Municipal - pça. Ramos De Azevedo, s/nº, República, tel. (11) 3053 2090
QUANTO de R$ 20 a R$ 30; ingressos em eventim.com.br

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