Descrição de chapéu

Belas sequências se perdem em trama de 'Antes do Fim'

INÁCIO ARAUJO
São Paulo

antes do fim

  • Quando estreia nesta quinta (15)
  • Classificação 10 anos
  • Elenco Jean-Claude Bernardet e Helena Ignez
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Cristiano Burlan

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Por vezes, parece que a preocupação central de Cristiano Burlan é fazer bonito. As imagens são o que se pode chamar de "recherchés": trabalhadas à exaustão, assim como a composição dos atores, os diálogos, a coreografia. Existe como que uma monotonia que vem dessa busca, a sensação de que estamos diante de "um filme de arte".

Jean-Claude Bernardet e Helena Ignez em "Antes do Fim", de Cristiano Burlan
Jean-Claude Bernardet e Helena Ignez em 'Antes do Fim', de Cristiano Burlan - Marina de Almeida Prado/Divulgação

E, no entanto, como que para nos surpreender, algo ocorre: por exemplo, a bela sequência de comédia muda, quando o homem e a mulher (o dançarino e a atriz), tentam comprar um caixão.

Esse caráter paradoxal pode derivar do problema em torno do qual gira a trama: a morte. O que significa morrer? E, como decorrência, que sentido existe em viver? E viver até quando? Ou ainda, como se perguntavam os surrealistas, o suicídio é uma solução?

Essas são as questões que agitam o homem que chega aos 80 anos (Jean-Claude Bernadet). Vista a partir da morte, de nossa finitude e da angústia que suscita, a existência é um absurdo. Como se comportar diante dela? Eliminando a angústia do futuro (como morrerei?), segundo o homem. Muito intelectual o raciocínio, muito frio, distante, o filme.

Na verdade, a mulher (Helena Ignez) não se dobra a esse tipo de ideia, mas promete estar a seu lado, ser sua cúmplice também no suicídio.

Existem momentos interessantes nessa cumplicidade. O melhor talvez esteja logo no início, quando os dois velhos amantes, na praia, em off, imaginam o diálogo entre duas pessoas que entram no mar.

Ou quando o dançarino discute com sua imagem no espelho, como a questionar esse duplo parasitário de si mesmo (e que se confunde consigo mesmo, com a diferença de que é imagem).

Embora em ambos os exemplos (assim como na cena burlesca na funerária) exista sempre a referência também um tanto parasitária ao cinema, nessas cenas se introduz algo como que de uma brincadeira que rompe com a seriedade do tema e a solenidade do tratamento.

Nos tempos da semiologia, o algoritmo de "Antes do Fim" bem poderia ser aquele: significante arte/significado arte. Sinais de uma arte edificante demais, pesada demais.

Na cena central do filme, uma espécie de dança da morte em que ressoa algo de um Fellini, Burlan não introduziu esse elemento circense, descompromissado, que, no entanto, traz o que há de mais interessante, de mais duradouro em seu filme: certa ideia de liberdade, de blague, de "fulano, isso é só um filme", para lembrar Hitchcock.

No mais, a vida segue com seus mistérios e angústias. Um pouco mais dura para quem assiste ao filme e por vezes se pergunta, enredado entre tantas angústias, quando afinal chegará ao fim "Antes do Fim". Afinal, por que tanta metafísica? La Nave Va.

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