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Bom elenco não salva filme da 'síndrome de autoajuda'

Jake Gyllenhaal interpreta homem que perdeu as pernas na Maratona de Boston 

SÉRGIO ALPENDRE

O QUE TE FAZ MAIS FORTE (Stronger)

  • Quando em cartaz
  • Elenco Jake Gyllenhaal, Tatiana Maslany e Miranda Richardson
  • Produção EUA, 2017, 14 anos
  • Direção David Gordon Green

É estranho ver o diretor que despontou no começo do século com "George Washington" e "Prova de Amor", dois filmes relativamente pequenos e com pretensões autorais, realizar agora uma espécie de cinema da autoajuda.

Tatiana Maslany e Jake Gyllenhaal em cena do filme de David Gordon Green - AP

Essa é a limitação que "O que Te Faz Mais Forte" não consegue ultrapassar, apesar de apresentar alguns elementos que ao menos o colocam acima de outras tentativas nesse subgênero.

David Gordon  Green sempre gostou de desafios e de correr riscos. Aqui, tenta dar conta de uma história real com altos índices de periculosidade quando passada para um drama cinematográfico: a luta de Jeff Bauman para superar o trauma de ter perdido suas duas pernas numa das explosões no atentado contra a tradicional Maratona de Boston, em 2013.

O próprio Bauman escreveu o livro, com a ajuda de Bret  Witter. A adaptação para o longa foi feita por John Pollono, roteirista de parca experiência no cinema. Jake Gyllenhaal assumiu o papel principal, Miranda Richardson interpreta sua mãe, e Tatiana Maslany, a namorada.

Notamos que o processo de adaptação à nova condição (como também o momento pós-explosão) é mostrado com um realismo incrível. Graças à tecnologia atual, vemos o ator sem partes de suas pernas.

Assim, vemos a fisioterapia, os cuidados médicos, a tentativa de adaptação com as próteses e as dificuldades na hora de fazer as necessidades básicas com um realismo aflitivo que nos coloca quase na pele de Bauman (ajuda que Gylenhaal esteja mais uma vez estupendo).

Bauman tem outros dois problemas. A mãe é alcoólatra e infantil. Quer a todo custo que o filho seja visto pelo mundo como um herói e pensa até em atrair Oprah Winfrey para entrevistá-lo.

É um trabalho notável dessa atriz versátil que é Miranda Richardson (em cartaz recentemente no filme "Churchill", não o de Gary Oldman), capaz de brilhar em diversos tipos de registro.

A namorada, Erin, sofre com a dificuldade de Bauman em aceitar o que lhe aconteceu e em não facilitar a ajuda, o que é natural, dado o trauma que ele sofreu.

Erin (bom trabalho de Tatiana Maslany) sofre mais ainda no contato com a mãe dele, que não faz nada para ajudar o filho nas coisas mais básicas e ainda é hostil com ela.

E, mesmo com a excelência dessas três atuações, a limitação persiste. Mais uma prova da dificuldade de alcançar um bom valor artístico com esse tipo de filme.

Falta algo à dramatização que escape de uma estrutura previsível em excesso. Falta também um final mais, digamos, cinematográfico.

Como a limitação não é ultrapassada, dentro do escopo da autoajuda seria mais eficaz ler o livro do próprio Bauman ao invés de assistir a uma representação de seu sofrimento na tela.

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