Descrição de chapéu Moda

Brasileiro reúne a maior coleção de peças de Versace

Alexandre Stefani, 47, garimpa desde os 17 peças do venerado estilista italiano

Pedro Diniz
São Paulo
Alexandre Stefani exibe parte de sua coleção no prédio onde mora em SP - Adriano Vizoni/Folhapress

Alexandre Stefani exibe parte de sua coleção no prédio onde mora em SP

Das grifes seminais do estilo italiano, uma das poucas que ainda não tem seu museu é a Versace. Mas se a atual dona, Donatella, quiser abrir um e reavivar a memória do irmão Gianni Versace, morto há 20 anos, não terá dificuldade. É só estacionar o jatinho em São Paulo.

Entulhado em dois quartos e no armário gigantesco de um apartamento na Bela Vista, na região central da cidade, um dos maiores acervos da obra do estilista sobrevive ao tempo, às traças que insistem em corroer as peças de lã e ao uso quase diário do seu dono, Alex Versace.

O apelido do artista plástico Alexandre Stefani, 47, foi dado pelos amigos da noite, mas as quase 500 peças de roupa, cintos e acessórios assinados pelo estilista é ele quem garimpa desde os 17 anos, no final dos anos 1980, quando vivia entre Paris, Milão e São Paulo como um "rato de liquidação".

Obcecado pelas coleções masculinas do designer e sem dinheiro no bolso, Stefani fez amizades com gerentes de loja e gente que trabalhava nos ateliês para, pouco a pouco, formar seu armário grifado, reconhecidamente o mais completo de itens Versace produzidos até 1997, ano da morte do patriarca.

São dele 170 peças das quase 300 criações exibidas na mostra "Gianni Versace Retrospective", em cartaz até 13 de abril no Kronprinzenpalais, em Berlim, que reúne acervos de cinco colecionadores de todo o mundo.

O que torna a coleção de Stefani um tesouro histórico não é apenas seu preço --uma única calça, de metal dourado, ainda tem a etiqueta de US$ 11 mil"", mas sim a vasta oferta de modelos do início dos anos 1980, quando o estilista ainda não era conhecido pela estética barroca que ajudou a implementar na moda.

Vestidos de modelagem complexa, com pouquíssimas aplicações, peças bege, pretas e cortes minimalistas integram o garimpo.

"Minha veneração não é pela pessoa, mas pelo artista. Os colecionadores costumam ir atrás das camisas estampadas, itens rebuscados. Acho muita coisa cafona. O que é aquela casa de Miami? Um horror", diz, citando a residência americana do estilista onde ele foi morto a tiros por Andrew Cunanan.

Versace se tornou tema de livros, exposição e série ("O Assassinato de Gianni Versace", do canal fechado FX).

OBSESSÃO


Para entender o fascínio pelo legado de Versace é preciso voltar no tempo e lembrar que, no início dos 1990, ele era espécie de deus para jovens fashionistas.

Assim como Cunanan, o fã assassino que fazia de tudo para entrar na vida de sua vítima, havia um séquito de fãs desesperados para ter um pedaço do império colorido, dourado e "fashion" de Gianni.

"Ele não se preocupava em fazer uma moda chique, nem se inspirar na nobreza. Ele criava baseado em minorias, como os sadomasoquistas, para costurar peças caríssimas. Se inspirava na puta para vestir a madame. Era uma loucura", relembra Stefani.

Como o orçamento não cabia no sonho, ele só pôde investir alto após a morte do estilista. "Fiquei desesperado. Só usava Gianni Versace. Quando ele morreu, pensei, 'o que eu vou usar agora?'. Saí comprando tudo."

Tudo mesmo. Além das roupas masculinas, o artista plástico tem várias versões femininas de roupas pensadas para homens, e vice-versa. Se uma não couber, a outra pode caber melhor.

Assim como Stefani, muitos dos fãs não tinham dinheiro para comprar peças da grife, uma das mais caras do mercado de luxo. São esses mesmos jovens que hoje, já de meia-idade, colecionam a marca e fazem parte da rede de contatos do paulistano.

"Tem muitos que acham uma peça mas não gostam tanto e acabam me procurando", diz o artista plástico.

Para saber se uma roupa é original —"tem muita falsificação feita na Tailândia"— ele procura o modelo em sua coleção de catálogos, vai atrás de amigos da época, como os vendedores que abriam a loja mesmo sabendo que ele só compraria na liquidação, e até liga para a filha da bordadeira-chefe que até hoje produz para a marca.

Ele diz que o melhor lugar para encontrar seu objetos de desejo são em pequenos brechós. "As melhores peças sempre estão na mão de gente que não sabe o que tem. Já comprei uma calça por US$ 50 de um cara que não sabia usar. Quando [a roupa] chegou, mandei a foto do catálogo só de sacanagem", ri.

Tudo agrada esse fã, exceto peças da gestão de Donatella, que, segundo Stefani, "era um termômetro para Gianni saber se estava indo longe demais numa ideia, mas que nunca chegou a ser musa dele como dizem".

Das coleções que a marca desfila na semana de moda de Milão, cuja temporada de outono-inverno começa nesta terça-feira, só uma peça ou outra pararam em seu armário.

"Donatella teve de se fazer estilista quando o irmão morreu. Mas ela só é boa de verdade quando faz tapete vermelho, porque é a roupa que ela espera vestir, uma que a deixe alta e magra", afirma.

Como quase todo fã caxias da obra original, ele odeia um "remake" e não engoliu a coleção tributo desfilada na temporada passada, em setembro, cuja passarela foi tomada por várias peças icônicas do estilista. "Uma cópia mal feita", resume.

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