Documentário celebra parceria entre Yamandu Costa e Renato Borghetti

Instrumentistas gaúchos exibem virtuosismo em viagem por músicas da terra deles 

Thales de Menezes
São Paulo

Gaúchos fazem uma música peculiar, cuja tradição segue às vezes parâmetros muito distantes das iniciativas sonoras no resto do país. Daí a brincadeira de que música gaúcha é tão diferente que no Estado o acordeão (ou sanfona) é chamado de gaita.

Por isso, quando dois dos maiores nomes da música instrumental brasileira se unem em projeto totalmente embebido na tradição gaúcha, o resultado só pode ser único.

"Borghetti  Yamandu", documentário em DVD que chega às lojas, tem um ineditismo acima de qualquer julgamento de qualidade. Uma viagem sonora pouco usual, principalmente para quem não é do Rio Grande do Sul.

O violonista Yamandu Costa e o acordeonista Renato Borghetti, que lançam disco juntos
O violonista Yamandu Costa e o acordeonista Renato Borghetti, que lançam disco juntos - Eduardo Rocha/Divulgação

Renato Borghetti, 54, e Yamandu Costa, 38, já superaram há muito uma possível separação geracional. É uma amizade de muito tempo.

Virtuoso do violão de sete cordas, Yamandu era ainda adolescente quando acompanhou Borghetti e sua gaita-ponto em apresentações pelo Estado de São Paulo.

INTIMIDADE

Mais de duas décadas de andanças que se cruzaram em festivais e shows criaram a intimidade que o filme dirigido por Rene Goya Filho exibe escancarada.

O material foi gravado em Porto Alegre, em 2011, e na fazenda de Borghetti, em Barra do Ribeiro, no ano passado.

O despojamento é total, sem preocupação de figurinos ou cenário. O estúdio na capital gaúcha é espartano, nada além de um tapete para receber o quarteto do projeto. Borghetti trouxe o contrabaixista Guto Wirtti, e Yamandu convocou o violonista Daniel Sá.

Foram apenas dois dias de gravação em Porto Alegre. O repertório, garimpado em material que Borghetti inclui nas turnês, soa fluido, natural. Nas conversas registradas no filme, os músicos falam das chances de improvisação dadas a todos. Nem precisavam explicar. O clima de jam session é evidente.

Há músicas que cativam pela beleza do arranjo e as passagens individuais dos integrantes do quarteto.

Yamandu aparece mais nas músicas destinadas a impressionar o espectador. Borghetti brilha como uma espécie de âncora para o pequeno grupo. Para exibir seu talento, ele encontra espaço nas canções mais festivas, ou, talvez, as "folclóricas".

RANCHEIRAS

Há intensidade em "La Casa del Chamamé", que pode apresentar a um público maior esse ritmo alegre popularizado pelos argentinos e apropriado pelos gaúchos, o chamamé. Há um clima de festa de interior no trio de músicas rancheiras, que o quarteto mescla numa espécie de suíte: "Rancheirinha", "Terça-Feira" e "Rancheira para Don Carlos".

Outro momento de tecer sonoridade densa a partir de peças populares mais simples está em mais uma suíte costurada pela dupla só com músicas tradicionais gaúchas: "Prenda Minha", "Hino ao Rio Grande", "Chula" e "Balaio", obras de domínio público presentes na memória afetiva de gerações.

Essas têm um clima festivo. Ao lado de "Redomona", de Edson Dutra e Frutuoso Araújo, são um convite irresistível à dança.

O repertório traz também autorais de Borghetti, duas em parceria com Daniel Sá, Fronteira e Pulo do Grilo. São peças de execução intrincada, perfeitas para a exibição de virtuosismo. Mas talvez a mais desafiadora para os instrumentistas seja Taquito Militar, de Mariano Moraes, que impressiona.

Os registros das músicas no estúdio são intercalados por trechos de conversas de Borghetti e Yamandu na fazenda. Contam histórias e explicam um pouco a maneira simples e direta como conduziram as gravações, entre a degustação de chimarrão e os preparativos de um churrasco familiar que nem a chuva atrapalha.

BORGHETTI YAMANDU
ARTISTAS Renato Borghetti e Yamandu Costa
LANÇAMENTO Estação Filmes
QUANTO R$ 59,90 (DVD) e R$ 39,90 (CD)
AVALIAÇÃO ótimo

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