Dylan Farrow nega que tenha 'se convencido' sobre abuso sexual de Woody Allen

Em resposta a artigo no 'New York Times', filha adotiva reitera acusação contra diretor

São Paulo

Dylan  Farrow repetiu em uma rede social, durante o último fim de semana, as acusações de que sofreu abuso sexual de Woody Allen quando era criança.

Filha adotiva do diretor, a escritora e ativista, hoje com 32 anos, afirma que foi abusada sexualmente por Allen em 1992, quando tinha 7 anos.

"Eu tenho consistentemente exposto a verdade por 25 anos, não vou parar agora. É direito de Stephens duvidar de mim se ele assim escolhe, mas sua incredulidade não muda o que aconteceu naquele dia", escreveu Farrow no Twitter.

Ela também republicou links para reportagens sobre outras investigações a respeito do caso, além de vídeos em que outras mulheres condenam o diretor pelo ocorrido.

Farrow se manifestou após a publicação do artigo "The Smearing of Woody Allen" (a difamação de Woody Allen, em inglês), no jornal americano "The New York Times".

No texto, o colunista político Bret Stephens questiona as acusações de Farrow sob a ótica de contradições apontadas por peritos nos depoimentos dela, em uma das investigações sobre o caso cuja conclusão foi pela inocência de Allen.

Stephens rememora uma investigação conduzida pelo Hospital de Yale-New Haven em 1992 e 1993, que embasou decisão dos procuradores do Estado de Connecticut de não processar Allen, e pergunta: "O peso das evidências disponíveis, sem falar na presunção de inocência, não deveria se estender ao julgamento da opinião pública também?".

O jornal posteriormente corrigiu o texto para destacar que essa não foi a única investigação sobre o fato --- outras duas resultaram inconclusivas.

Stephens também cita erros judiciais célebres nos EUA, causados por falta de cuidados e checagens após depoimentos tomados de crianças: "A maioria dos pais sabe que as crianças pequenas são imaginativas e sugestíveis e inocentemente propensas a inventar coisas".

Ele também aponta uma suposta contradição na caracterização de Allen como pedófilo, visto que, dada a ausência de outras acusações contra o diretor, esse impulso só teria se manifestado nesta única vez, e conclui: "Não é preciso duvidar da honestidade de Farrow para duvidar da versão dela sobre os eventos".

Em suas respostas no Twitter, Farrow afirma que "Presumir que inventei essa história e que convenci a mim mesma é não menos insultante do que me chamar de mentirosa".

O Woody Allen e sua mulher Soon-Yi Previn na estreia de "Cafe Society" em Cannes, em 2016
O Woody Allen e sua mulher Soon-Yi Previn na estreia de "Cafe Society" em Cannes, em 2016 - Alberto Pizzoli - 11.mai.2016/AFP

VELHA ACUSAÇÃO, NOVAS REAÇÕES

As acusações contra Woody Allen foram reavivadas por Farrow em entrevista à TV americana em janeiro, na esteira da onda de denúncias contra atores, produtores e outros poderosos de Hollywood por episódios de assédio sexual e estupro.

Na ocasião, Farrow, filha do diretor e da atriz Mia Farrow, questionou por que os movimentos de repúdio aos agressores sexuais, como o #MeToo (eu também), seguiam poupando o diretor nova-iorquino.

Em resposta, atrizes como Natalie Portman e Mira Sorvino manifestaram arrependimento por terem trabalhado com Allen.

Na ocasião, o diretor, que, segundo relatos na imprensa dos EUA, tem sido isolado pela indústria do cinema e por atores e atrizes, foi defendido por pouquíssimos, como o ator Alec  Baldwin.

 

ASSÉDIO SEXUAL

Confira a seguir um resumo sobre os principais casos de assédio sexual e estupro em Hollywood reportados recentemente.

Harvey Weinstein
No caso que foi o estopim para a avalanche de acusações em Hollywood, o outrora poderoso produtor de 65 é acusado de ter assediado e estuprado mulheres ao longo de três décadas. Entre as vítimas estão Angelina Jolie, Ashley Judd e Gwyneth Paltrow. Bob Weinstein, irmão de Harvey, também foi acusado de assédio.

Kevin Spacey
O ator de 58 anos foi acusado pelo colega AnthonyRapp de o ter assediado fisicamente quando a vítima tinha 14 anos. O ator mexicano Roberto Cavazos fez acusações semelhantes. Após as acusações, a Netflix suspendeu a última temporada da série "House of Cards" e afastou o ator do programa, além de cancelar o lançamento do filme "Gore", protagonizado por Spacey.

Louis C.K.
O comediante e diretor de 50 anos confirmou as acusações de assédio sexual feitas contra ele por cinco mulheres, publicadas em reportagem do "New York Times". Em dois relatos, o comediante se masturbou em frente a atrizes sem o consentimento delas. Após as denúncias, a estreia do filme "I Love You, Daddy", de Louis C.K., foi cancelada. A Netflix também cancelou a produção de um especial com o comediante.

James Toback
Segundo o "Los Angeles Times", mais de 30 mulheres denunciaram o diretor e roteirista de 72 anos de cometer assédio sexual. Autor da reportagem, Glenn Whipp disse ter sido contatado por 193 mulheres com acusações semelhantes contra Toback, autor do roteiro de filmes como "Bugsy" e "O Apostador".

Roman Polanski
Além de ter estuprado uma garota de 13 anos em 1977, o cineasta franco-polonês de 84 anos também é alvo de, pelo menos, outras quatro acusações contra mulheres menores de idade, entre elas a atriz Charlotte Lewis. Em Paris, uma retrospectiva de sua obra foi alvo de críticas por um grupo feminista.

Dustin Hoffman
O ator que tem hoje 80 anos é acusado de ter assediado sexualmente a escritora Anna Graham Hunter, então com 17 anos, no set do telefilme "A Morte de um Caixeiro-Viajante", em 1985. Ele teria falado de sexo para ela e a apalpado. Hoffman se desculpou e disse que aquilo não "reflete" quem ele é.

Brett Ratner
A atriz Natasha Henstridge diz ter sido forçada a fazer sexo oral no diretor de "A Hora do Rush" e "X-Men: O Confronto Final" nos anos 1990. Além dela, outras atrizes e modelos, como Olivia Munn e Jaime Ray Newman, também relatam casos semelhantes envolvendo ele. Rattner, 48, nega as acusações.

Ed Westwick
O ator conhecido por "Gossip Girl" foi acusado de estupro por Kristina Cohen e Aurélie Wynn. Ele nega. A polícia de Los Angeles abriu investigação sobre o primeiro caso. Com isso, a BBC suspendeu a exibição "Ordeal by Innocence". As gravações já iniciadas da segunda temporada de "White Gold", da Netflix, também foram suspensas.

John Lasseter
O diretor da Pixar e dos filmes "Toy Story" e "Vida de Inseto" decidiu tirar licença de seis meses após admitir erros ligados a condutas de assédio sexual. Colaboradoras reclamaram de um excesso "invasivo" de abraços e outras situações desconfortáveis.

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