Descrição de chapéu

Em Milão, grifes provam que se reinventar não é simples

Prada supera crise, e Emilio Pucci mostra que precisa de um novo guia após perder estilistas

Milão

PRADA

EMILIO PUCCI

Ninguém disse que seria fácil estar entre as principais grifes do mundo e, a cada seis meses, ter de provar que ainda pode deslumbrar, questionar algum padrão e, assim, vender. Prada e Emilio Pucci, marcas cujos desfiles aconteceram no quarto dia da semana de moda de Milão, são exemplos da relação entre imagem de passarela e produto comercial.

Mergulhada numa crise de identidade que travou o faturamento global dos últimos três anos, a Prada parafusou o trono no topo da pirâmide da indústria ao reeditar imagens que ajudou a construir nos anos 1990.

As peças de náilon com a plaqueta vermelha estampada, símbolos da febre que a etiqueta causou no século passado, voltaram em variações de casacos amplos, dublados em neoprene, e propostas de vestidos de paetês com a alma dos 1980. Só a alma, porque a graça foi fazer nada parecer antigo.

Na nova torre branca da Fundação Prada, construção que tomou o tempo e a mente de Miuccia Prada nas últimas temporadas, as modelos passearam sob uma estrutura preta que refletia as luzes da cidade e as placas de neon posicionadas fora do espaço.

As cores ácidas aplicadas em conjuntos e vestidos foram sobrepostas a pesados casacos de náilon acolchoado, como se a estilista versasse sobre o quanto as mulheres têm de se proteger nas caminhadas noturnas.

"Numa noite eu andei um pouco e me senti insegura, então você pode imaginar uma jovem que quer se vestir de forma sexy. Provavelmente ela se sente insegura", disse Prada, minutos antes do desfile, em uma entrevista coletiva para a imprensa.

Movimentos como o "MeToo" e "Times Up", engendrado por atrizes e celebridades para combater o assédio sofrido pelas mulheres, parecem martelar a cabeça da estilista. Não foi à toa, então, que o balanço de doçura e força bruta da história da marca tenha sido atualizado.

Florais ampliados aparecem borrados nos "vestidos coquetel", em capas e detalhes das inúmeras camadas de roupa. No molho da salada, peças da indumentária esportiva e logos de inspiração vintage abrem possibilidade para confecção de peças comerciais, palatáveis, e nem de longe esquecíveis.

Um tipo de operação de guerra que a Emilio Pucci escorregou, lutando para sair de um inferno astral que a fez perder dois estilistas nesta década. A dança das cadeiras não fez bem à grife, que, de volta à passarela de Milão, mostrou seu legado de estampas e estética "kitsch".

Há belos casacos de lantejoulas, peças de lingerie usadas como roupa exterior e toda a sorte de jersey que, combinado aos padrões sinuosos dos desenhos, remetem às imagens dos anos 1950, década de fundação da marca.

A coleção causa impacto visual mais pelo uso indiscriminado de estampas, cores e silhuetas, do que por sua imagem final. As peças, combinadas sem muito critério de edição, estão prontas para a arara, uma característica que, numa semana de moda onde se espera muito mais do que uma roupa bonita, soa como falta de norte criativo.

Mesmo os vestidos de tons ácidos monocromáticos combinados com botas, boas ideias para o clima de festa que muitas marcas insistem em criar, parecem deslocadas dentro do bolo de referências do passado.

Agora é fato, a Pucci precisa urgentemente de novo guia, um cargo ainda vago que faz a diferença no trabalho de reeditar uma história sem resvalar na cópia sem tempero de si mesmo.

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