J Balvin é um homem exausto, soterrado pelos compromissos da fama. Ele chega quase uma hora atrasado para o encontro, sua voz mais um murmúrio do que o tom estridente que imprime aos versos de hit atrás de hit do reggaeton, o estilo surgido há mais de duas décadas que o catapultou ao auge do cenário do pop do século 21.
No 40º andar de um hotel de Nova York, esse músico colombiano era esperado por um batalhão de assistentes, produtores e jornalistas. Desviou de todos e passou um tempo falando ao telefone deitado num canto diante de uma janela com vista para as torres de vidro de Manhattan.
Mais tarde, chega à sala desta entrevista trazido por uma assessora que lista toda a sua agenda, ainda só começando, no início daquela noite conversas com canais de TV, um chat da gravadora, um evento de uma plataforma de streaming e por aí afora.
"Não sou uma estrela", diz o cantor, olhando para o chão de carpete. "E nada foi da noite para o dia, foi todo um processo, então não me surpreendo. Nem me acho famoso."
J Balvin, ex-José Álvaro Osorio Balvin, é uma sensação da música latina que, aos poucos, se torna uma sensação da música global.
Os brasileiros vão se lembrar de suas canções com Anitta, entre elas "Machika", criada com a pretensão de ser o hino da Copa do Mundo que começa em junho na Rússia.
Na música, com um clipe inspirado no estilo ficção científica desértica dos filmes "Mad Max", a funkeira carioca se anuncia como a sensação da favela que saiu para romper fronteiras e um J Balvin de cabelos descoloridos faz coro berrando estamos duros, somos globais.
Em "Ginza", a primeira colaboração dos dois, Anitta canta "sei que você quer provar meu amor, então me mostra o que sabe". Já em "Downtown", pós-preliminares, ela espera "que ele me encha inteira de satisfação". E a química entre eles, a julgar pela reação dos fãs, foi explosiva.
"É uma mulher muito especial, sou muito grato a ela", diz J Balvin, sobre a amiga. "Sinto como se ela fosse a minha irmã. Ela me deixou entrar em seu coração e conhecer o seu país. Só quero que ela seja algo muito grande."
FILA
Enquanto Anitta abriu as portas do mercado brasileiro para J Balvin, o colombiano encontrou nos EUA estrelas fazendo fila para cantar com ele Justin Bieber, Pharrell Williams, Pitbull e, por fim, Beyoncé, que fez um remix de sua "Mi Gente" e levou o músico ao topo das paradas.
Nesse ponto, o artista que já se recusou a cantar num concurso de miss organizado por Donald Trump, então candidato à Casa Branca, ajuda a neutralizar o ódio a imigrantes latinos que o atual presidente parece defender.
"Os que não querem ninguém de fora aqui são só a minoria. Eles fazem mais barulho, mas são a minoria", afirma o músico. "Nós, os latinos, movimentamos as massas. Nós vencemos com isso."
E ele, no caso, venceu na indústria musical com uma estratégia distinta de outros galãs latinos, entre eles o também colombiano Maluma, que enlouquece fãs com caras e bocas safadas e músculos muito bem esculpidos.
"Gosto mais de ser cool do que bonito", diz. "Cada um tem sua forma de se vender, e penso em outro conceito de beleza. Quero que os homens se identifiquem comigo e as mulheres também, porque chega um ponto em que, se as mulheres gostam demais de você, os homens já não gostam."
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