Descrição de chapéu

Longa narra vida do mais importante editor do 'Washington Post'

Ben Bradlee chefiou jornal à época dos Papéis do Pentágono e de Watergate

O editor-executivo do ‘Washington Post’, Ben Bradlee, e Katharine Graham, publisher do jornal, em foto sem data - France Presse- AFP/The Washington Post Files
Sérgio Dávila
São Paulo

"Um editor de jornal é alguém que separa o joio do trigo --e publica o joio".

A blague inteligente atribuída a Adlai Stevenson (1900-1965) é repetida como piada interna nas Redações e usada em críticas à imprensa dos que se sentem atingidos pelo que é publicado.

No último dia 2, Rosangela Moro estampou em seu Instagram reprodução de uma das capas do caderno especial do aniversário de 95 anos da Folha, em que uma página do jornal embrulha um cacho de bananas, e parafraseou a máxima do político norte-americano.

"Imprensa... Para o bem e para o mal. Separam o joio do trigo e publicam o joio." Advogada, fluente nas redes sociais --mantinha a página "Eu MORO com ele", sobre seu marido, Sérgio Moro--, ela se referia a reportagem do jornal que revelou que o juiz da Lava Jato recebe auxílio-moradia, mesmo tendo imóvel próprio em Curitiba.

Ben Bradlee foi o mais longevo e importante editor-executivo do jornal "The Washington Post". Sabia separar o joio (erva-daninha) do trigo --e publicar o último. Por seu discernimento chegaram às páginas do diário que comandava dois dos principais fatos dos Estados Unidos contemporâneos: os Papéis do Pentágono e o Caso Watergate.

O primeiro arrancou uma vitória da liberdade de imprensa da Suprema Corte, além de fazer o jornal deixar de ter um alcance local e virar referência nacional na cobertura política. O segundo levou Richard Nixon (1913-1994) à renúncia, a única da história do país, em 1974.

A vida do editor (1921-2014) é tema de um documentário que a HBO Brasil vem exibindo nos últimos dias e que está à disposição no serviço por demanda: "O Homem do Jornal - A Vida de Ben Bradlee".

Com 1h30, direção de John Maggio e narração do próprio Bradlee, retirada do audiolivro de sua biografia de 1995, é entremeado por depoimentos de nomes como Bob Woodward e Carl Bernstein, a dupla de Watergate, e David Remnick, editor da "New Yorker", que teve seu primeiro emprego no "Post" da Era Bradlee (1968-1991).

As novidades estão no que mostra antes e depois dos episódios mais conhecidos (Watergate e Pentágono), já bastante explorados por dois dos melhores filmes do subgênero "thriller jornalístico", respectivamente "Todos os Homens do Presidente" (1976), de Alan J. Pakula, o melhor, e "The  Post", de Steven Spielberg, em cartaz.

De uma família de classe média de Boston, Bradlee teve poliomielite, estudou em Harvard e lutou na Segunda Guerra pela Marinha. Mulherengo, casou-se três vezes. Sua segunda mulher era irmã de Mary  Pinchot  Meyer, que viria a ser uma das amantes de John F. Kennedy.

Ex-mulher de um agente da CIA, Mary foi morta em circunstâncias não totalmente esclarecidas meses depois do assassinato do presidente. A amizade de Bradlee e Kennedy era um de seus calcanhares-de-aquiles --acusavam o jornalista de ser parcial quando se tratava do democrata.

Foi o primeiro "editor-celebridade" e se preocupava com isso, "mas não muito", revela o filho mais velho, rindo. Ficou amigo de Robert Redford e Dustin Hoffman durante as filmagens de "Todos os Homens" e passou a andar na Redação com o mesmo trejeito criado no filme pelo ator que o interpretava, Jason Robards.

Seu momento profissional mais difícil foi depois do auge da fama, em 1981, quando uma jornalista ambiciosa publicou série de reportagens sobre um menino de 8 anos viciado em heroína. A história rendeu a Janet Cooke o Pulitzer, principal prêmio jornalístico dos EUA, mas era invenção --assim como aspectos da vida da própria repórter.

Todos os filtros falharam: o de Bob Woodward, na ocasião editor do caderno de assuntos cotidianos e chefe direto de Janet, e o do próprio Bradlee. Publicado o joio, o editor foi atrás do trigo: comissionou o ombudsman para apurar em que o jornal errara. Sua conclusão estampou a Primeira Página e quatro páginas seguintes do "Post".

Bradlee se aposentou em 1991 e seguiu como vice-presidente honorário do jornal até sua morte, em 2014.

 

"O Homem do Jornal"

Quando qua. (14), às 14h05, sex. (16), às 13h10, qui. (22), às 6h40, seg. (5/3), às 11h10, sex. (9/3), às 7h20 e ter. (20/3), às 6h50, na HBO e em streaming no HBO Go

Avaliação muito bom

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