Entregue ao sexo, em um verão italiano, Oliver pede que Elio lhe chame pelo seu próprio nome. É o pacto com que os dois selam em delírio aquela relação, física até o limite da palavra. Ao trocar de alcunha, eles extinguem o limite entre os seus corpos.
A cena dá título ao livro "Me Chame Pelo Seu Nome", publicado pelo escritor egípcio radicado nos EUA André Aciman em 2007 e agora traduzido ao português. O filme foi lançado em janeiro.
A obra acompanha a obsessiva relação entre o charmoso Oliver, de 24 anos, e o tímido Elio, 17, em meio a passeios de bicicleta, mergulhos no mar e leituras de poesia.
Explorando as nuances dos primeiros amores, Aciman faz com que os leitores recordem suas próprias paixões --ou, entregues à tristeza, se ressintam de não tê-las nem sequer experimentado.
O livro é mais intenso do que o filme e retrata melhor a fusão entre os amantes, não apenas durante o sexo mas também na vida cotidiana.
A já infame cena que mistura uma fruta ao sêmen de um dos personagens vai mais longe no livro, por exemplo, e Elio explora em mais detalhes o corpo de Oliver.
Vestindo o calção um do outro e chamando o amante pelo seu próprio nome, eles de alguma maneira se tornam um homem só. Daí a naturalidade com que se observam ao banheiro, em mais uma das cenas fora do filme.
O livro, narrado por Elio, permite ainda que o leitor mergulhe mais fundo nos pensamentos do personagem. As indas e vindas, as dúvidas, as vergonhas —a profundidade do garoto não precisa ser adivinhada, ao contrário do que ocorre no filme.
O fato de que a história seja contada a partir do ponto de vista de Elio é uma das ferramentas mais poderosas da narrativa de Aciman, porque transforma Oliver nessa entidade silenciosa que o leitor nunca chega a entender bem.
Aí sim é preciso presumir, porque o autor não dá quase voz ao segundo personagem. Oliver é sempre o outro, sobre quem o leitor sabe tanto quanto Elio. Essa barreira explica parte do desespero com que a leitura avança, entre as interrogações e vazios.
Outra das táticas do autor, incrementando a dor do leitor, é seu controle da passagem do tempo. Alguns dias são estendidos sob o sol por longas páginas, outros passam depressa demais. Em parte do livro, rouba anos do leitor sem que ele perceba.
É como se Aciman— especializado na obra do francês Marcel Proust— nos lembrasse da força das memórias e de como elas estão presas ao passado. O leitor vira a última página com melancolia, talvez não lembrando mais de onde vem a falta que sente.
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