Descrição de chapéu

'O Destino de uma Nação' passa impressão de ser roteiro ampliado

Livro tenta revigorar tese de que Churchill esteve inclinado a negociar com Hitler

Igor Gielow
São Paulo

O DESTINO DE UMA NAÇÃO

  • Preço R$ 49,90 (280 págs.)
  • Autor Anthony McCarten
  • Editora Crítica
  • Tradução Eliana Rocha e Luis Reyes Gil

Lançado agora no Brasil na esteira do sucesso da interpretação de Gary Oldman como Winston Churchill, "O Destino de uma Nação" em versão livro é uma honesta apresentação ao leigo das semanas que forjaram a imagem do premiê britânico como um dos maiores estadistas da história do Ocidente.

Cena do filme "O Destino de uma Nação" ("Darkest Hour"). Direção: Joe Wright. Elenco: Gary Oldman, Lily James, Kristin Scott Thomas.
Gary Oldman interpretou Churchill na versão das telas - Divulgação

Mas ele para por aí. Escrito num "combo" com o roteiro do filme por Anthony McCarten, o livro tenta revigorar a tese de que Churchill provavelmente esteve inclinado a negociar com Adolf Hitler em alguns dos momentos cruciais do início da Segunda Guerra.

O problema é que não há novidade nem na leitura, nem na polêmica. Há décadas são conhecidas as transcrições de debates no Gabinete de Guerra em que Churchill teoriza sobre cessão de territórios em favor de algum tipo de paz com os nazistas, só para depois virar a mesa e se lançar à história como o homem que prometeu que "lutaremos nas praias".

Não há um consenso final, até porque os relatos foram filtrados pela lente do viés dos presentes aos debates, mas historiadores revisionistas estão em minoria ao fim.

Apologistas de Churchill, a maioria, veem naquelas insinuações de compromisso apenas estratégia para ganhar tempo contra os membros mais apaziguadores do seu governo, como o então visconde Halifax.

Como a atual geração está sendo apresentada a Churchill não por meio de biografias como a de Roy Jenkins ou pelos relatos curtos e brilhantes de John Lukacs, mas sim por Hollywood, o texto do neozelandês McCarten sugere frescor e originalidade.

Retire-se a última qualidade, inexistente, e aí é possível apreciar o ritmo obviamente cinematográfico da ação descrita por McCarten.

Ele intercala o drama que se desenrola na Europa continental à guerra de nervos em Londres, que ele se preocupa em embasar academicamente com citações fartas a diários e transcrições.

Não se esquece, como em qualquer obra sobre Churchill, sobre o quanto ele era espezinhado ao longo da primeira metade do século 20 por sua longa série de erros políticos e militares, além de discorrer sobre seus hábitos pantagruélicos e exóticos.

A impressão geral é a de que se está diante de um roteiro ampliado, e não vice-versa. McCarten se trai, por exemplo, quando imagina um debate entre Churchill e Halifax no meio de sua narrativa --algo que migrou para o roteiro do filme.

Ao menos a algo constrangedora cena fictícia do premiê auscultando o sentimento do "povo" no metrô londrino não se encontra presente.

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