Enquanto Nova York anda desfilando a garota do hip hop e Paris a intelectual inconformista, Milão se empenha em mostrar algum nível de democracia.
Na passarela --e também nas lojas, nas feirinhas do fim de semana e na fila do supermercado--, a cidade exibe roupa para madame, para patricinha e para um baile do tipo show das poderosas.
Esta semana de moda de Milão sagra caricaturas da mulher cosmopolita, um meio termo entre o estilo sexy que fez a fama da cidade como segunda opção aos clássicos franceses e a nova clientela afeita à moda urbana. Roberto Cavalli, Tod's e Versace são exemplos dessa equação.
Em um galpão desativado de uma estação de trem, o estilista Paul Surridge desenterrou signos de Cavalli perdidos nos anos 1990, como as estampas animais, os terninhos e os vestidos com drapeados circulares, para misturá-los à alfaiataria decotada.
Suas famosas calças jeans bordadas com paetês voltaram, só que no corpo dos homens, e os costumes tipicamente masculinos, acinturados, nos corpos das mulheres.
Capas de couro prensado, cujo efeito simula a pele de crocodilo, adornam looks de blusa e calça tingidos com técnica "tie-dye", que também aparece em casaquetos de ombros arredondados e calças de cintura alta.
A imagem, tanto masculina quanto feminina, remonta ao típico italiano que expõe as formas do corpo, característica que talvez explique o porquê de a marca ir bem nas vendas no Brasil.
Por sua vez, a Tod's explora a elite que viaja para as montanhas, monta em cavalos de raça e não descola do animal de estimação, aqui representado por filhotes de cachorros carregados pelas modelos, cobertas por casacos de lã e couro.
As madames moderninhas exibem botas pesadas de veludo, mas também coturnos, dois extremos que convivem num mesmo espaço preenchido por itens utilitários, cheios de bolsos e zíperes.
Capas suntuosas tingidas com variações de marsala, um tom de vinho escuro, e beges, do mais claro ao camelo, combinavam com calças e casacos esportivos.
Híbridos, aqui e na maioria das passarelas milanesas, são a bola da vez.
BEVERLY HILLS
Vale até mesclar o sexy glamoroso com as esquisitices dos 1990, como fez a Versace em um dos melhores desfiles desta temporada de outono-inverno 2018-2019 —e, provavelmente, de toda a carreira de Donatella Versace à frente da marca do irmão.
Os xadrezes de saias colegiais e os dos "kilts" e do padrão "argyle" escoceses fizeram par com a moda sensual em couro e decotes da grife.
Conjuntos que pareciam retirados do filme "As Patricinhas de Beverly Hills", de 1995, se misturavam às peças ciganas confeccionadas com miçangas, aos pontos de alfaiataria e às várias tachas aplicadas em jaquetas de couro e golas de camisas lisas.
Ao assumir parte do legado de Gianni Versace, a estilista aplica estampas coloridas em conjuntos completos, lenços de cabeça e saias volumosas feitas com camadas de tecido combinadas a camiseta e cinto.
Parte simplista, parte exuberante, a coleção resume a moda autorreferente da Itália sem fazê-la parecer datada, um tipo de roupa que envolve, exibe e levanta a autoestima em qualquer ocasião.
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